sábado, 26 de outubro de 2019

Coleção reúne espécies de peixes nativos e exóticos do rio São Francisco

A exposição surgiu através de um projeto de extensão do Campus Petrolina Zona Rural do IF Sertão-PE. Qualquer pessoa pode visitar o espaço.



Coleção de peixes do rio São Francisco  — Foto: Ascom / IF Sertão-PE
Coleção de peixes do rio São Francisco — Foto: Ascom / IF Sertão-PE

Com um acervo que reúne 30 espécies de peixes nativos e exóticos, o Campus Petrolina Zona Rural do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE) inaugurou na última sexta-feira (4) a Coleção Ictiológica do Rio São Francisco. Através do novo espaço, os moradores de Petrolina e das cidades vizinhas têm a chance de conhecer mais sobre a biodiversidade do Velho Chico.
A coleção é resultado de trabalho desenvolvido por um projeto de extensão em atividade há três anos, orientado pelos professores Elizângela Souza, Daniel Amaral e Carla Samantha, que envolveu desde a criação de banco de dados sobre os peixes, até a aplicação de técnicas de conservação dos espécimes.
“Inicialmente a coleção era levada para escolas, associações, para despertar para a necessidade de preservação do rio. Agora nós vamos receber a comunidade no campus, com o objetivo de conscientização ambiental e de incentivar pesquisas e estudos com essas espécies, que ainda são escassos", diz a professora Elisângela.
Segundo a professora, o conhecimento sobre os peixes pode ajudar na preservação. "Nós não conseguimos preservar e conservar o que a gente não conhece. Tem gente que mora na beira do rio e não conhece os peixes. Todo mundo acha que a tilápia, por exemplo, é nativa e ela foi introduzida”, explica.

Coleção de peixes no IF Sertão-PE — Foto: Ascom / IF Sertão-PE
Coleção de peixes no IF Sertão-PE — Foto: Ascom / IF Sertão-PE


Entre as espécies nativas que fazem parte da coleção estão o Surubim, Dourado, Cari, Caborge, Pirambeba e Pirá, que não é mais encontrado no Submédio São Francisco. A Carpa, Tilápia do Nilo, Tucunaré e Tambaqui estão entre os peixes exóticos que podem ser vistos na mostra.
A exposição foi criada com o objetivo de promover a conscientização ambiental e preservação dos peixes do rio São Francisco, sobretudo das espécies nativas. “A ideia de reunir espécies nativas e exóticas é justamente comentar sobre os impactos causados pelas exóticas, o que elas trouxeram de diferente para o nosso rio”, afirma o professor Daniel Amaral, destacando que o espaço vai funcionar como um museu.
O rio São Francisco possui uma biodiversidade de importância inestimável. Somente em relação à ictiofauna, são mais de 200 espécies de peixes, dentre nativas, exóticas e endêmicas. No entanto, fatores como a pesca predatória e a poluição ameaçam a vida e até mesmo a continuidade de muitas dessas espécies, sendo algumas ameaçadas e até já em extinção.
Para visitar o acervo, é preciso fazer um agendamento através do e-mail: cpzr.comunicacao@ifsertao-pe. Qualquer pessoa pode participar.


Projeto no entorno do Rio São Francisco alia gestão da água com produção rural na caatinga

Iniciativa inclui técnicas simples de armazenamento da água da chuva até a construção de pequenas barragens para evitar a erosão do solo.


No sertão do Nordeste, no entorno do Rio São Francisco, comunidades e pesquisadores trabalham em conjunto para buscar a recuperação de nascente de rios e incentivar o uso de técnicas para aproveitar melhor o uso da água. Tudo isso para alavancar a produção rural na caatinga.
Canindé de São Francisco, noroeste de Sergipe e divisa com Alagoas, é um exemplo. O município tem lindas paisagens e uma aparente abundância de água. Porém, no entorno do rio que passa pela cidade é marcado por pouca chuva e pela seca.
Perto dali, no assentamento Florestan Fernandes, a falta de água é um problema, a chuva raramente vem e, quando chega, não é na época certa para a atividade agrícola. Animais e plantações não resistem e morrem.
O biólogo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Valdemar Rodrigues é especialista em desertificação e afirma que parte dessa região corre risco de virar um deserto sem vida.
“O que nós temos que fazer é procurar onde existia essa água para que a gente possa recuperar e dar novamente condições de vida no sertão do Nordeste”, explica.

Em Sergipe, as águas do Velho Chico cortam a paisagem do sertão — Foto: Hellen Santos/TV Globo
Em Sergipe, as águas do Velho Chico cortam a paisagem do sertão — Foto: Hellen Santos/TV Globo

Com esse objetivo, a comunidade partiu em busca da água e conseguiu localizar a nascente de rio. Protegida por uma manilha, que traz a água do subsolo, ela garante 700 litros por dia, o que ajuda a matar a sede do gado.
Além dessa, outras 7 nascentes foram encontradas em comunidades do município e na cidade vizinha, Poço Redondo.
O resgate da água é uma das soluções de um projeto de uso sustentável do semiárido, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente com recursos de um fundo internacional.

O entorno do Rio São Francisco é marcado pela pouca chuva e secas frequentes — Foto: Hellen Santos/TV Globo
O entorno do Rio São Francisco é marcado pela pouca chuva e secas frequentes — Foto: Hellen Santos/TV Globo


A coordenadora Sociedade de Apoio Socioambientalista e Cultural (Sasac), Daniela Bento, é uma das líderes de um projeto de convivência com a seca em pequenas comunidades e explica que tudo começa por uma mudança de hábito.
“A caatinga não é ruim com a gente. Ás vezes, nós podemos ser um pouquinho ruim com ela pela nossa ignorância, pelo modo como a gente foi ensinado que era queimando, que era cortando... e a gente agora está descobrindo de que a gente pode conviver harmonicamente também, que ela é nossa parceria”, afirma Daniela.


Técnicas simples e eficientes


O projeto oferece tecnologias básicas para produzir no semiárido, mas que só desembarcaram por lá em 2018, cerca de 20 anos de espera por uma “cisterna calçadão”, por exemplo. Neste sistema, a água da chuva por um calçadão e é armazenada para abastecer a agricultura familiar.
O agricultor João afirma que isso ajuda a garantir uma “segurança hídrica” para a região. “Antes de ter essa cisterna era muito dificultoso de a gente conseguir criar os animais”, lembra.

Em assentamentos, em Canindé de São Francisco, pequenos agricultores torcem pela chuva a cada safra — Foto: Hellen Santos/TV Globo
Em assentamentos, em Canindé de São Francisco, pequenos agricultores torcem pela chuva a cada safra — Foto: Hellen Santos/TV Globo


Soluções assim alcançaram 600 famílias, em 20 comunidades, em Sergipe e outros quatro estados do nordeste (Bahia, Piauí, Maranhão e Ceará).
“Se você não tem água você não tem como você produzir. Você fica na vulnerabilidade realmente que você tenha o retorno da Fome nessa região”, afirma a coordenadora Sociedade de Apoio Socioambientalista e Cultural (Sasac), Daniela Bento.

Evitar a erosão do solo é fundamental


No sertão chove muito pouco, e quando chove, muitas vezes são pancadas de chuva. Quando isso acontece, existe um risco. Essa água, quando ela bate no chão, em vez de infiltrar e virar um reservatório paras plantas, ela vai escorrer e levar junto muita terra fértil.
O problema é agravado dependendo do jeito que o agricultor planta na lavoura. Quando a linha de plantio está no mesmo sentido da caída da água, é erosão na certa.
“No final de uma chuva, você perde de 5 a 10 centímetros de solo, permitindo que a erosão se instale e a capacidade de produção diminua drasticamente na região”, explica Rodrigues.
A primeira atitude é mudar o sentido do plantio, fazendo as chamadas curvas de nível, que são linhas que acompanham o relevo.
“Hoje a gente já aprendeu mais um pouco. A gente nasceu na roça, só que esse manejo a gente nunca tinha aprendido”, afirma o agricultor José Augusto dos Santos.
A mudança foi possível com a ajuda do técnico agropecuário Egídio dos Santos Neto, que atua em uma ONG nas Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas (Urad).
A erosão também é um problema para os açudes da região, por isso que os projetos que atuam na região buscam diversas formas para evitar o problema.
Um exemplo é a “barragem de base zero”, que são pedra amontoadas perto dos açudes que seguram a chegada terra e permitem a água passar.
A manutenção das barragens é simples e deverá ser feita anualmente pelos próprios agricultores.

'Mudança de pobre para rico'


Uma outra etapa desse projeto de recuperação ambiental, olhou diretamente para o dia-a-dia do sertanejo, dentro da casa dele. Com isso, ideias que parecem simples, podem mudar toda a rotina.
Na casa da agricultora Marly de Lima, por exemplo, agora a cozinha tem um fogão ecológico, que usa pouca lenha e joga toda fumaça por uma chaminé. Antes, ela cozinhava no quintal e ficava exposta à fuligem, o que poderia gerar problemas respiratórios no futuro.

O projeto de recuperação da caatinga levou mudanças para dentro das casas. Dona Marly foi uma das beneficiadas — Foto: Hellen Santos/TV Globo
O projeto de recuperação da caatinga levou mudanças para dentro das casas. Dona Marly foi uma das beneficiadas — Foto: Hellen Santos/TV Globo


O agricultor José Viana vive na região há 10 anos e a casa dele e da esposa, Lica, que faleceu pouco após a gravação da reportagem, passou por mudanças. Além do fogão ecológico, um item comum na cidade, mas que é novidade por lá: um chuveiro.
“É uma mudança assim, de pobre para rico (risos). Muita gente que já possui e não dá valor que realmente merece. Agora, a gente que nunca possuiu quando tem é um melhoramento. Outra vida”, comemora José Viana.