quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Seca na barragem de Sobradinho é suprida com eólicas e termelétricas

Com 5,6 Megavolts (MVA) de potência instalada, a Companhia de Energia Elétrica do Estado da Bahia (Coelba) garante que não há riscos de apagões no Estado, por conta da crise de geração de energia na Barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco. Isso porque a empresa afirma ter energia suficiente para suprir a demanda dos 415 (dos 417 existentes) municípios do Estado, onde atende a uma população de  mais de 14 milhões de habitantes.
Ontem, o Lago da Barragem de Sobradinho estava com apenas 1,5% do seu volume útil de água armazenada. Hoje em Brasília, a Agência Nacional de Águas vai reunir técnicos do Ibama, Chesf, Comitê da Bacia do São Francisco, e o Operador Nacional do Sistema (ONS) para decidir pela redução da vazão de Sobradinho de 900 metros cúbicos por segundo para 800 m³/s como está sendo solicitado pelo ONS. Essa redução é para evitar que se chegue ao volume morto (0% do volume útil) , quando Sobradinho deixará de gerar energia.
Segundo a empresa existe energia contratada em volume suficiente para atender ao crescimento da demanda de mercado da sua área de concessão pelos próximos cinco anos.  Essa energia contratada é obtida através da compra do produto ofertado no mercado, através de leilões oferecidos pelas geradoras, com matrizes  diversas, não mais unicamente do sistema hidrelétrico da Chesf  no Rio São Francisco, mas de fontes como a geração eólica, térmica, além de energia hidráulica transferidas de outras regiões.
No último mês de outubro, a energia distribuída pela Coelba nos 415 municípios baianos foi de 1.624 GWh (Gigawatt-hora). No acumulado deste ano, de janeiro a outubro, a energia distribuída pela Coelba em sua área de concessão foi de 15.579 GWh.  Hoje a empresa conta com mais de 5,6 milhões de clientes, sendo 88% destes, clientes residenciais. 

Eólicas
Além da oferta de energia de outras matrizes que são adquiridas no mercado, através de leilões, a Bahia ainda tem sistemas geradores de energia hidrelétricas próprios, operados pelo grupo Neoenergia  com quatro usinas hidfrelétricas de pequeno porte -  Alto Fêmea, Itapebi, Presidente Goulart e Sitio Grande – e três sistemas de geração eólica – Caetité I, II e III, localizados no Centro Sul do estado. 

Na semana passada a Chesf  inaugurou as novas subestações Igaporã  III e Pindaí  II, em 230 kV, esta última com uma potência de 300 MVA. No mesmo período também entraram em operação as novas linhas de transmissão Igaporã II / Igaporã III e Pindaí II / Igaporã III, em 230 kV, com extensões de 5,4 quilômetros 49,6 Km, que irão reforçar o fornecimento de energia para o Estado.
O empreendimento proporcionará o crescimento do aproveitamento do potencial de energia eólica, um importante reforço para a geração de energia elétrica na região,  principalmente considerando os atuais baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas no fim do período seco. O empreendimento da Chesf contempla a integração de 12 parques eólicos, com potência de 246,8 MW, localizados na região Centro |Sul da Bahia.
Estão em andamento os serviços para conclusão, ainda neste mês, da segunda linha de transmissão Igaporã II / Igaporã III C1, em 230 kiloVolt. Até o final do ano, entra em operação comercial o empreendimento completoa linha de transmissão Bom Jesus da Lapa II / Ibicoara, para conexão da subestação Igaporã III, na tensão de 500 kV e com extensão de 69,7 km, além dos dois bancos de autotransformadores 500/230/13.8 kV com potência total de 1.750MegaVolt de potência instalada.
Ministério de Minas diz que risco de apagão é zero
Em nota, o Ministério das Minas e Energia (MME) informou que mesmo sem a geração de energia a partir da Barragem de Sobradinho, a maior do Nordeste, a região não sofrerá com colapso no fornecimento, uma vez que além da geração própria, de usinas termelétricas e geração eólica, conta ainda com a interligação com sistemas de outras regiões dom país.Segundo o MME, a situação de abastecimento de energia no Nordeste é confortável, devido ao volume de térmicas e eólicas que há na região, e também pelos intercâmbios de energia elétrica gerados em outras regiões do Sistema Interligado Nacional (SIN). Porém, a defluência  (saída da água) da usina não pode ser interrompida, pois é preciso manter o abastecimento de água para consumo humano à jusante da usina (nas comunidades que ficam no curso do rio, após a hidrelétrica).
Ainda segundo o ministério os órgãos e entidades que compõem o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) acompanham continuamente as condições de suprimento energético no país. O comitê avaliou que o risco de qualquer déficit de energia no Nordeste é zero neste ano. Este ano já foram adicionados 4.436 MegaWatts  (MW) de  energia ao sistema integrado, beneficiando todas as regiões do país. 
Chuvas
As chuvas que caem no Norte de Minas Gerais, onde ficam as nascentes do Rio São Francisco ainda são consideradas fracas pelos técnicos do Ministério das Minas e Energia. A previsão é de que elas sejam ainda menores na próxima semana, o que diminuirá ainda mais a vazão do rio. A bacia do rio São Francisco apresenta chuva fraca isolada devido ao avanço da frente fria por Minas Gerais no início da semana e à atuação de áreas de instabilidade no decorrer da semana.

Desta forma, segundo a nota do MME,  a coordenação hidráulica das usinas da bacia do rio São Francisco na região NE será efetuada visando a implementação da política de redução da defluência mínima, nas UHEs Sobradinho e Xingó, sendo a geração térmica local e o intercâmbio de energia responsável pelo fechamento do balanço energético da região NE.
Segundo informou o Operador Nacional do Sistema (ONS) a previsão de carga de oferta de para a Região Nordeste é de 11.250 MW 
Estas previsões, quando comparadas aos números verificados na semana anterior, indicam acréscimo de 0,7. Em relação a igual período do mês passado, houve um crescimento da oferta de energia para o Nordeste, mediante o uso de geração eólica, termelétricas e transferências de outras regiões, de 4,8%.

Sistema hidrelétrico
A demanda de consumo de energia na Região Nordeste está em torno de 11 mil MegaWatts, dos quais somente o sistema hidrelétrico do Rio São Francisco responde por aproximadamente 10,5% dessa geração de energia. Dessa geração hidrelétrica, 60% depende da vazão DCE água da Barragem de Sobradinho, quye por sua vez regula o sistema hidrelétrico da Barragem de Itaparica e do Complexo Paulo Afonso e Xingó.

A Chesf diz que a região dispõe como alternativa em torno de 7 mil MW de energia vinda da geração eólica e outros 5 mil MW das usinas termelétricas. A isso acrescente-se as linhas de transmissões que trazem energia das regiões Norte e Sudeste.

Rio São Francisco vive seca histórica, afetando produtores de frutas e vinhos

A crise hídrica que levou o rio São Francisco a uma das piores secas da história gerou duplo impacto na produção de frutas e vinhos no semiárido da Bahia e Pernambuco.
Produtores temem a possível falta de água no próximo mês para as culturas irrigadas no Vale do São Francisco. Entre as cidades afetadas estão Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), que, em plena crise econômica, estão no topo do ranking de geração de empregos formais este ano.
Além da apreensão com o mais baixo nível da história do reservatório de Sobradinho (3,6%), o principal do rio, o aumento das tarifas de energia elétrica elevou o gasto dos produtores da região.
Segundo agricultores, o sistema de bandeiras tarifárias -instituído pelo governo federal para diminuir o consumo de energia e preservar os reservatórios de hidrelétricas- fez o custo de produção de frutas irrigadas no semiárido nordestino aumentar em até 30%.
Segundo o diretor presidente da Upa Agrícola Limitada, Caio Coelho, o baixo volume de água faz com que as bombas consumam mais energia para levar a água aos pontos de irrigação.
"Para produzir normalmente, precisa irrigar de forma abundante", disse ele que tem 500 hectares de frutas irrigadas e 1.200 funcionários.
MANGA, UVA, GOIABA
O cultivo em perímetros irrigados existe desde a década de 1980 na região. Ela concentra 120 mil hectares de culturas de manga, uva, goiaba, coco verde e acerola.
Cerca de 70% da produção é destinada à exportação para os Estados Unidos, Canadá e países da Europa e Ásia. A alta do dólar seria comemorada caso os custos de produção não tivessem aumentado quase na mesma proporção.
A agricultura é o carro-chefe da economia do semiárido nordestino. Petrolina foi a cidade que mais gerou vagas formais no país entre janeiro a setembro, segundo o Caged: 4.836 novos postos. Juazeiro, com 2.205 novas vagas, ficou na sexta posição.
O Vale abriga seis vinícolas que formam o segundo maior polo produtor de vinhos do país, atrás do Rio Grande do Sul. Também nesse segmento os efeitos da seca são sentidos.
José Gualberto, sócio da Vinícola do Vale do São Francisco, que produz vinhos da marca Botticelli, se queixa do fim do desconto para consumo entre 21h30 e 6h, horário de maior volume de irrigação.
"Gastava cerca de R$ 20 mil por mês com energia. Hoje gasto R$ 45 mil", disse.

A empresa de vinhos Miolo, por exemplo, utiliza água da barragem de Sobradinho para irrigar sua vinícola em Casa Nova (BA), onde desde 2001 são envasados 2,5 milhões de garrafas de vinho e espumantes por ano.
Segundo o gerente da unidade, Flávio Durante, a empresa teve que gastar R$ 30 mil na aquisição de uma bomba e tubulações para captar rio mais acima.


VOLUME MORTO
Caso Sobradinho chegue ao volume morto, o que é previsto para dezembro, o nível da água estará abaixo do ponto de captação.
Resultaria na interrupção de fornecimento e perda de produção do maior perímetro irrigado de Petrolina, chamado Senador Nilo Coelho, com 23 mil hectares de frutas (área equivalente a cerca da metade da baía de Guanabara).
Segundo Edis Matsumoto, sócio proprietário da Fazenda Área Nova, que tem 74 hectares de uvas e mangas no local, um mês sem água resultará na morte das plantas frutíferas, que levam de dois a quatro anos para começar a produzir em escala industrial.
O Ministério da Integração Nacional promete concluir em dezembro a instalação de balsas flutuantes que permitiriam a captação em volume morto no lago de Sobradinho.