sábado, 15 de julho de 2017

Captação de água no rio São Francisco está proibida às quartas-feiras

Medida visa evitar que a represa de Sobradinho chegue ao volume morto; chove abaixo da média na bacia do rio há 7 anos.


Barragem de Sobradinho, no norte da Bahia (Foto: Reprodução/ TV São Francisco)


A captação de água na bacia do Rio São Francisco está proibida às quartas-feiras, exceto para abastecimento humano ou animal. A medida, batizada de Dia do Rio, visa evitar que a represa de Sobradinho, na Bahia, chegue ao volume morto e foi anunciada pela Agência Nacional de Águas (ANA) nesta segunda-feira (19).
De acordo com a agência, chove abaixo da média na bacia do São Francisco há sete anos. Sobradinho é o maior reservatório do sistema, com volume útil de 28 bilhões de m³ e capacidade para armazenar 34 bilhões de m³ de água.
A regra vale da próxima quarta (21) até 30 de novembro de 2017, quando está previsto o fim do período seco, mas poderá ser prorrogada caso atrase o início do período de chuvas na região.
Para preservar os estoques, a ANA vem autorizando a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) a reduzir a vazão mínima média das represas de Sobradinho e Xingó desde abril de 2013. Sem essa intervenção, Sobradinho teria esgotado seu volume útil em novembro de 2014, segundo a agência.
A nova norma afeta mais de 2 mil usuários, principalmente produtores que irrigam plantações e indústrias. Ela abrange a calha do rio São Francisco, 14 afluentes de gestão federal, os lagos dos seis reservatórios da bacia e o complexo Paulo Afonso, na Bahia.
Quem descumprir a resolução da ANA poderá receber advertência, multas e ter a bomba de captação vedada.
A suspensão foi articulada com os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e também com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco.

A medida
Está proibida a retirada de água no Rio São Francisco às quartas-feiras para todos os usos, inclusive irrigação. Só é permitida a captação para consumo humano e animal, usos prioritários em casos de escassez, segundo previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97).
Fica suspenso também o uso para irrigação de volumes de água reservados antes do "Dia do Rio".

Sobradinho e Xingó
Desde o início de junho, a vazão média diária autorizada pela ANA nos reservatórios de Sobradinho e Xingó é da ordem de 600 m³/s, o menor patamar já praticado.
De acordo com a agência, o último ano em que foi registrada precipitação acima da média na Bacia do Rio São Francisco foi 2011, o que vem baixando os estoques de água armazenados.
No último dia 12, segundo a ANA, o volume útil do Reservatório Equivalente da Bacia do Rio São Francisco era de 8.823 m³, o que equivale a 18,58% do seu volume útil total. Na mesma data do ano passado o armazenamento era de 29,13% do volume útil.
A licença ambiental do Ibama para a operação do reservatório de Xingó fixa a vazão defluente média mensal em 1.300 m³/s. A ANA diz que a captação abaixo desse patamar, que vem sendo praticada desde 2013, já permitiu poupar mais de 38 bilhões de m³, o que equivale 134% do volume útil de Sobradinho.
As reduções de vazão foram implementadas de maneira gradual com autorizações especiais expedidas pelo Ibama e a realização de testes efetuados pela Chesf, que informou não ter identificado problemas críticos com a prática de vazões reduzidas.
"Frente à tendência de agravamento no segundo semestre da mais severa seca que se tem registro na bacia do rio São Francisco, de cenários que apontam para o esgotamento do volume útil do reservatório de Sobradinho e das incertezas quanto ao próximo período chuvoso, é necessário adotar medidas adicionais ainda mais restritivas na gestão da oferta e da demanda de água para fazer frente à crise instalada", argumenta a ANA em nota.

Bacia do São Francisco
A bacia do rio São Francisco possui mais de 2.800 km em seis estados (Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Goiás), além do Distrito Federal.
A área da bacia hidrográfica é de 641 mil Km2, correspondente a 8% da área do País. Mais de 85% da água da bacia é usada para irrigação, 10% para abastecimento público e menos de 5% para outros fins, como mineração e indústria.

Fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/captacao-de-agua-no-rio-sao-francisco-esta-proibida-as-quartas-feiras.ghtml

Com seca, escultura de 12 metros de altura que ficava sob a água aparece em banco de areia no Rio São Francisco

Estrutura é situada em Juazeiro, norte do estado.


A baixa do Rio São Francisco, causada por uma das piores estiagens dos últimos 100 anos, em Juazeiro, norte da Bahia, fez a escultura "Nego D’Água" aparecer na superfície da areia, quando antes ficava sob a água. A estrutura tem 12 metros de altura.
"Nunca imaginei que eu viria andando para o Nego D'água, porque a gente vinha de barco. Com essa seca toda aí, isso dói no coração e na alma”, lamenta o pescador Erenildo de Souza.
A seca mudou a paisagem das ilhas da região, com muitos bancos de areia e pedras que surgiram no rodeadouro nos últimos anos. O pescador afirma ainda que a falta de vazão reduziu a diversidade de peixes no Velho Chico.
"Geralmente a gente pegava quatro espécies de peixe. Agora a gente só pega o 'pacu'. Então, o 'curimatá', o 'piau cascadura' e o 'piau cabeçudo' a gente não pega mais", conta Erenildo.

A seca no rio tem mudado também a rotina de quem costuma pegar as barcas que fazem travessia entre Juazeiro e Petrolina. Nas últimas semanas, os passageiros precisam esperar, porque as embarcações estão com dificuldade para navegar. A profundidade no trecho de navegação, que chega a mais de 10 metros em tempos de cheia, reduziu para pouco mais de 5 metros.
“Com a baixa vazão do rio, ficou só o canal de entrar e sair. Semana passada, uma embarcação encalhou e eu tive que transferir os passageiros para outra embarcação”, relata o comandante Gilberto Avelino de Souza Filho.
Com a falta de chuva na nascente do Rio São Francisco, em Minas Gerais, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Ibama autorizaram a redução da vazão da saída de água da barragem de Sobradinho para 600 metros cúbicos por segundo, a menor registrada desde o início de operação da usina, em 1979. O volume de água do reservatório atualmente é de pouco mais de 11%.
A degradação e o uso desordenado da água são outros fatores que contribuem para a baixa do rio. "O que a gente tem é um rio minguante e que muita gente atribui à seca do momento. A seca do momento influencia, mas se nós tivéssemos aquíferos com água, a gente não estaria na situação que a gente está hoje. Se a gente continuar desmatando e impactando o cerrado, a gente vai perder os volumes de água do São Francisco e os especialistas nos dizem que, nesse sentido, o São Francisco vai morrer junto com o cerrado”, avalia o membro de Pastoral da Terra, Roberto Malvezzi.