quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Os barcos a vapor ou gaiolas do São Francisco

Saldanha Marinho

Foto: Barreto (2010)

Entre Juazeiro-BA e Petrolina-PE tanto chegava como saía muita mercadoria produzida nos municípios vizinhos, ribeirinhos ou não, tendo como via de escoamento o rio São Francisco. Os barcos a vapor ou gaiolas - é importante ressaltar no caso do Saldanha Marinho, primeira embarcação a vapor a navegar no rio São Francisco, foi construído nos Estados Unidos da América na segunda metade do século XIX, navegou por vários anos no rio Mississípi, hoje definitivamente ancorado às margens do rio na orla nova de Juazeiro, transformado em um ponto turístico na cidade vizinha, é um patrimônio histórico-cultural - davam o ritmo à região, na circulação das mercadorias, pessoas e informações. O tempo, é claro para algumas pessoas da época, dava a impressão de passar devagar. A espera para muitos, tanto para quem viaja como para quem esperava era angustiante.





Benjamim Guimarães

      Benjamim Guimarães é um vapor construído em 1913, nos Estados Unidos, pelo estaleiro James Rees & Com. O Benjamim Guimarães navegou no rio Mississípi e, posteriormente, em rios da Bacia Amazônica. Na segunda metade da década de 1920, a firma Júlio Guimarães adquiriu a embarcação e a montou no porto de Pirapora, recebendo o nome de "Benjamim Guimarães", uma homenagem ao patriarca da família proprietária da firma. A partir de então, o vapor passou a realizar contínuas viagens ao longo do rio São Francisco e em alguns dos seus afluentes.
      Ao contrário das demais embarcações da época, as viagens eram programadas de modo a permitir que o mesmo atendesse as mais variadas necessidades, indo e vindo de vários portos intermediários antes do seu regresso ao porto de origem. O Benjamim Guimarães era mais utilizado no transporte de cargas do que de passageiros. Relatos dos antigos usuários da embarcação contam que em uma dessas viagens coincidiu com as andanças de cangaceiro "Lampião" por pequenos povoados situados às margens do rio, atacando fazendas na região de Juazeiro na Bahia. Ao tomar conhecimento do grande volume de carga transportada pelo Benjamim Guimarães, "Lampião" e seu bando planejaram atacá-lo. Ciente do perigo que corria e se valendo do fato do rio ser largo naquele trecho, a tripulação do Benjamim imprimiu velocidade máxima à embarcação, dirigindo-se à outra margem, livrando-se assim dos tiros em sua direção.
      Na década de 1940, o vapor tornou-se propriedade da empresa Navegação e Comércio do São Francisco, do empresário Quintino Vargas que, em 1942, foi incorporada à Companhia Indústria e Viação de Pirapora. Em 1955, tendo ocorrido a encampação, pela União, de todas as empresas de navegação, o Vapor Benjamim Guimarães é transferido, juntamente com outras 31 embarcações, para o Serviço de Navegação do Vale do São Francisco e, posteriormente, para a Companhia de Navegação do São Francisco. Por várias décadas, o Benjamim Guimarães foi utilizado no transporte de cargas e passageiros no trecho Pirapora - Juazeiro, no Norte da Bahia, chegando a navegar com centenas de passageiros a bordo que se dividiam em primeira, segunda e terceira classes, além de ter transportado - durante a Segunda Grande Guerra Mundial - tropas do Exército Brasileiro que se dirigiam para o litoral de Pernambuco e do rio Grande do Norte para o patrulhamento da costa, de onde embarcariam para a Itália, na Força Expedicionária Brasileira.
      No início dos anos 1980, com a decadência da navegação no São Francisco, o vapor passou a ser utilizado em passeios turísticos e as viagens tornaram-se cada vez menos freqüentes. Em 1 de agosto de 1985, dado seu valor histórico-cultural, o Benjamim foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico. No mesmo ano, já bastante deteriorado pela ação do tempo, recebe sua primeira reforma. Após concluída a restauração, o vapor volta a navegar oficialmente em 24 de outubro de 1986, data marcada por uma cerimônia com a presença do então Ministro dos Transportes José Reinaldo Tavares. Em julho de 1987, a Empresa UNITOUR ficou responsável pelo agenciamento de viagens turísticas no trecho Pirapora-São Francisco-Pirapora, totalizando 460 km, atraindo turistas de todo o Brasil. Foram reiniciados, também, os passeios aos sábados, com duração de três horas, promovidos pelos principais hotéis da cidade.

      Em 1995, o Vapor apresentou falhas na caldeira e no casco e, por motivo de segurança, foi interditado pela Capitania dos Portos de Minas Gerais. Em 29 de janeiro de 1997, o Benjamim foi incorporado ao Patrimônio Histórico do Município de Pirapora, através de Termo de Transferência firmado entre a Franave e a Prefeitura. Atracado no porto da Franave por quase dez anos, o Vapor Benjamim Guimarães voltou a navegar nas águas do Rio São Francisco na manhã do dia 11 de agosto de 2004, após passar por uma segunda recuperação - reforma e restauração, realizada pela Franave/Ministério dos Transportes, com supervisão do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e vistoria técnica da CFSF - Capitania Fluvial do São Francisco. O engenheiro naval Odair Sanguino, do Rio de Janeiro, foi o responsável pela coordenação dos trabalhos de recuperação, recebendo o auxílio do restaurador Aílton Batista da Silva e do arquiteto Joacir Silva Concelos, profissionais lotados no Instituto Estadual de Patrimônio Histórico.
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Barão de Cotegipe


      O Barão de Cotegipe foi o vapor que mais deixou saudades nas barrancas do Rio São Francisco. Até hoje, os barranqueiros comentam saudosamente sobre o som melodioso do seu apito. Quando apontava na curva do Canal do Guaxinim, que separa a Ilha do Gado Bravo da Ilha do Miradouro e inicia a Ipueira, com destino ao porto de Xiquexique, o "Prático", da sua cabine de comando, acionava o dispositivo para que toda a população tomasse conhecimento de que o "Barão" estava chegando. Era uma alegria geral com todos correndo em direção ao cais para assistir o vapor "encostar". Na saída, quando levantava âncora e já no meio da Ipueira se encaminhando para adentrar o Rio São Francisco, onde dominava, o "Barão" emitia novo apito, desta vez com um timbre e uma frequência diferentes que o povo, ainda de pé e postado na beira do cais, entendia como de despedida ou de um até logo. Todo mundo em Xiquexique, pode-se afirmar, identificava o apito do "Barão", como era carinhosamente conhecido por todos os barranqueiros.
Fabricado nos Estados Unidos em 1913, foi reformado em 1967. Final e criminosamente foi abandonado no porto em Pirapora (MG), com o casco enterrado num banco de areia onde ficou atá a sua destruição total. Tinha 43 m de comprimento com capacidade para deslocar 80 toneladas. Era o vapor preferido para se viajar com destino a Juazeiro (BA).

obs.: O nome do Vapor foi dado em homenagem ao Barão de Cotegipe, título nobiliárquico concedido por D. Pedro II ao Presidente da Bahia e Ministro das Relações Exteriores, Dr. João Maurício Wanderley, nascido em 23.10.1815 na cidade da Barra (BA) e nomeado, em 1842, primeiro Juiz de Direito de Xiquexique, onde exerceu a magistratura até 1844, sendo depois eleito Deputado Provincial por nove mandatos consecutivos. O Dr. João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, era pai de João Ferreira de Araujo Pinho, governador da Bahia nos anos de 1908 a 1912 e avô de Wanderley Pinho que foi Prefeito de Salvador de janeiro de 1948 a abril de 1951. O Barão de Cotegipe faleceu no ano de 1889.

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Fonte: Barreto, R. D. O processo de globalização da economia e seus reflexos no município de Petrolina-PE: aplicações ao ensino da geografia econômicaRecife: UFRPE, 2010.