sábado, 15 de agosto de 2015

Prevendo prejuízos com crise hídrica, produtores cobram flutuantes

Produtores estão preocupados com burocracia para início de obras. Codevasf deu prazo de 91 dias para execução.



Agricultores do Vale do São Francisco, especialmente do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, em Petrolina, no Sertão pernambucano, reuniram-se na manhã desta terça-feira (11) com equipes de engenharia da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A preocupação deles é em relação à implantação dos flutuantes para captação de água no volume morto do Lago de Sobradinho-BA.

De acordo com o gerente-executivo do Distrito de Irrigação Nilo Coelho (DINC), Paulo Sales, a vinda de representantes da Codevasf foi para esclarecer como está o processo burocrático para a instalação dos equipamentos que deverão auxiliar na irrigação do Vale. “Cerca de 40 dias atrás tivemos reuniões com o ministro e autoridades e eles disseram que os recursos já tinham sido liberados. O valor da obra era de R$ 39 milhões, mas houve um aumento posterior e excedeu R$ 40 milhões”, disse o gerente-executivo do DINC.
A reunião ocorrida no dia 26 de junho teve a presença do Ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, em que foi anunciado um investimento de R$ 34 milhões para que a Codevasf pudesse fazer as obras necessárias para garantir o abastecimento de água nos perímetros. Somente para o Distrito Senador Nilo Coelho existem R$ 25,5 milhões liberados para o projeto, além de R$ 2 milhões por parte da prefeitura municipal.
O projeto apresentado pela Codevasf é composto por três módulos. O primeiro é a construção de um canal paralelo com orçamento em torno de R$ 16 milhões. Os outros dois módulos são os sistemas de flutuantes e o sistema de adução, o que compõem os R$ 40 milhões. “Como o governo liberou R$ 25,5, eles priorizaram a construção dos 100% do canal paralelo e o restante eles iriam reduzir o número de conjuntos. Isso não é bom para nós, porque terá uma vazão reduzida. Precisamos de 14 m³ por segundo”, explicou Paulo Sales.
O coordenador da Câmara de Fruticultura Irrigada em Petrolina, Henrique Holtrup, disse que a preocupação dos agricultores é em relação à demora da burocracia. “A nossa preocupação é que não se fez nada até agora. A gente sempre bate na mesma tecla. Houve reunião com o ministro prometendo a solução e agora com tudo conseguido, não deslancha”, disse Henrique Holtrup.
O coordenador da Câmara de Fruticultura Irrigada destacou ainda que a projeção do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que no dia 30 de novembro o nível do Lago de Sobradinho chegará a 8.8%. Atualmente o lago opera a 15%. “Vai ter um colapso se não chover mais tarde. Sem água não se produz. Nós temos aqui lavouras perenes como manga e uva. Se morrer, começa tudo do zero e não dá nem para imaginar uma coisa dessas”, enfatizou Henrique Holtrup.
O engenheiro e analista de desenvolvimento regional da Codevasf, Márcio Adalberto Andrade, explicou que até o final do mês de agosto serão publicados os dois editais que darão início às obras. O valor de R$ 39 milhões disponibilizado pelo Governo Federal é para atender 12 perímetros irrigados, oito deles no submédio Vale do São Francisco. O prazo para a execução da implantação dos flutuantes é de 91 dias, segundo a Companhia.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Alerta: Mancha no rio São Francisco

     


        O aparecimento, no mês de abril de 2015, de uma mancha ao longo de 30 quilômetros do rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe, no Baixo São Francisco, preocupou a sociedade ribeirinha, que teve o abastecimento de água na região comprometido. Acompanhando o caso muito de perto e preocupado em melhor atender a população, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco disponibiliza em seu portal os relatórios técnicos emitidos pelos órgãos ambientais sobre a problemática, bem como notícias e fotos a ela relacionadas. 

Confira no link abaixo.

Fonte: http://cbhsaofrancisco.org.br/alerta-mancha-no-rio-sao-francisco/




sábado, 8 de agosto de 2015

Demissões na agricultura preocupam produtores rurais de Petrolina, PE

Ministério da Integração disse que a suspensão dos serviços é temporária. 2.220 produtores do Vale do São Francisco estão preocupados.


O Governo federal suspendeu o contrato dos Assistentes Técnicos e Agrônomos do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco.  A medida preocupou os produtores rurais que não podem mais contar com a ajudar desses profissionais. A justificativa para essas demissões, foi a contenção de gastos.
Dos cinco hectares plantados com coco, na propriedade do produtor rural Natalício Luiz de Sá, quatro foram infestados pelo ácaro do coqueiro. Os frutos estão apodrecendo ainda no pé e não param de cair. “Nós não temos conhecimento do que aplicar, então a gente fica com a área comprometida, caindo a produção. Quando cai a produção, falta tudo para a gente”, explica o produtor.
O trabalho do controle de pragas era feito por Assistentes Técnicos que prestavam serviços ao Ministério da Integração Nacional e que atendiam os produtores de frutas de áreas irrigadas da região. Mas, recentemente, os contratos desses assistentes foram suspensos.
Ao todo eram 11 agrônomos, três assistentes sociais e 24 técnicos agrícolas. Os serviços prestados por esses profissionais foram garantidos aos agricultores de áreas de irrigação, através de uma Lei Federal de 2010.
O contrato foi assinado em 17 de outubro de 2013, por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), instituição ligada ao Ministério da Irrigação. A medida deveria valer por cinco anos, mas a suspensão ocorreu três anos antes do vencimento.
Entre as atribuições dos técnicos estavam a orientação do uso de água, adubos, agrotóxicos, planejamento de produção, colheita, venda da mercadoria e emissão de laudos para financiamento bancário e de certificados que liberam a exportação das frutas. Com as demissões, todos os serviços foram paralisados.
As consequências das demissões podem ser graves no Vale do São Francisco, de onde sai a maior parte das uvas e mangas exportadas. É também em Petrolina que fica o Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho, o maior projeto rural público em operação no país. Agora, 2.220 produtores estão preocupados com o futuro.
O gerente executivo do Distrito de Irrigação Nilo Coelho, Paulo Sales, falou sobre as consequências negativas que a medida pode trazer. “Nós nos preocupamos ainda mais porque como existe a possibilidade de virmos a operar o sistema em condições de contingência, por conta do nível do reservatório de Sobradinho, a participação e o acompanhamento dos técnicos, da assistência técnica, é extremamente importante. E ainda existe a preocupação com a mosca da fruta, que era um trabalho que também estava sendo acompanhado pelos técnicos e que tem um impacto extremamente negativo, sobretudo quando você começa fazer a avaliação dos produtores que tem cultura para exportação”, explicou.
A falta de orientação profissional preocupa também a promotora de justiça do Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco, Ana Rúbia Torres. “Nós podemos desarticular e perder toda produção orgânica que nós levamos quase uma década para construir. O meio ambiente perde, porque vai ficar mais intoxicado, com o nível de agrotóxico, porque nós somos o segundo pólo consumidor de agrotóxico do estado e o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do planeta. Então o que a gente perde é a saúde no Vale do São Francisco”, argumenta.
Em nota, o Ministério da Integração nacional disse que a suspensão dos serviços é temporária e que ainda está buscando parcerias para atender a demanda dos perímetros públicos irrigados. Mas não foi informada nenhuma previsão de retorno dos profissionais.
Fonte: http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2015/08/demissoes-na-agricultura-preocupam-produtores-rurais-de-petrolina-pe.html

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Carrancas do São Francisco


Os dicionários de língua portuguesa definem a palavra carranca, como sendo figura sombria, de cara feia e disforme, indicativo de mau humor.

Segundo os historiadores, as barcas que circulavam pelo rio São Francisco foram as únicas embarcações primitivas de povos ocidentais que usaram figuras de proa ou carrancas.

Essas esculturas surgiram na cultura nordestina, mais propriamente no meio da civilização ribeirinha do Médio São Francisco por volta de 1875/1880 e durou até o ano de 1940, quando se encerrou o ciclo das embarcações no Brasil.

Essas figuras ocupam lugar de destaque na arte popular nordestina, pela expressividade artística e pela originalidade tipicamente brasileira.

Existem muitas versões históricas sobre o aparecimento das carrancas, na região nordestina. Porém a tese decorrente de estudos antropológicos, que possui maior probabilidade, é a que defende o aspecto lendário das carrancas, que segundo a crença e o misticismo do povo primitivo que habitava aquela região, as carrancas serviam de amuletos de proteção e salvaguardavam os barqueiros, viajantes e moradores contra as tempestades, perigos e maus presságios.

Serviam também para espantar os animais e os duendes moradores do rio São Francisco que de noite saiam das profundezas das águas para assombrar barqueiros, tentar mulheres e roubar crianças. Esses seres ao verem as figuras das carrancas nas proas, de olhos esbugalhados, de bocas enormes escancaradas e agressivas, se espantavam e se recolhiam aos seus esconderijos.

A forte tendência à submissão e à crença no poder sobrenatural das carrancas é explicado a partir do primitivismo e ingenuidade dos habitantes, que eram povos extremamente supersticiosos e acreditavam em várias lendas.

Quanto ao aspecto econômico pode-se dizer que o surgimento dessas figuras horripilantes de aspecto grosseiro, talhadas em madeira, tenha sido um dos mais relevantes motivos para a emancipação comercial, política e social da região do Médio São Francisco.

A característica plástica predominante em todas as carrancas, corresponde ao fato delas apresentarem fisionomias de animais, cabeças de humanos e vice-versa. E o traço mais marcante dessas figuras são as vastas cabeleiras e os olhos de humanos que elas possuem.

Cabe aos artesãos nordestinos da região do Médio São Francisco, o mérito pela criação de uma imaginária popular, de aspecto mítico e decorativo, baseada na cultura regional, porém com fortes influências da arte peninsular da Idade Média.

Com o declínio do ciclo das barcas no Brasil, em 1940, essas esculturas artesanais deixaram de ser figuras de proa e passaram a ser objetos de arte popular presentes nos museus, exposições, feiras artesanais e coleções.

Um dos principais e mais famosos artesãos do ciclo das barcas foi o escultor Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, que durante toda sua trajetória, semeou e difundiu seus dotes artísticos com o povo de sua região. Hoje é grande o número de artesãos espalhados pelos sertões do Nordeste do Brasil.

Devido à grande procura e aceitação, o comércio das carrancas expandiu-se muito, tornando-se uma atividade alternativa para os carranqueiros do Nordeste.

Fazer carrancas além de ser uma expressão significativa da arte popular, é uma atividade rentável para o artesão.

Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=575:carrancas-do-sao-francisco&catid=38:letra-c&Itemid=182

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Gestores de cidades do Semiárido estarão no G20 em Petrolina, PE

Uma reunião prévia com secretários será realizada no dia 14 de agosto. G20 vai acontecer nos dias 22 e 23 de outubro no Senai em Petrolina.


Para discutir as cadeias produtivas, municípios do Semiárido nordestino estarão reunidos nos dias 22 e 23 de outubro no G20 em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. A ideia é que  secretários de planejamento, gestores e representantes de centros de pesquisa, universidades e órgãos e atores sociais do país definam políticas públicas para implementar instrumentos para potencializar as riquezas e atrativos de cada cidade.
Além da anfitriã que é Petrolina, foram convocados os municípios pernambucanos: Caruaru, Garanhuns e Santa Cruz do Capibaribe; Da Bahia: Feira de Santana, Jequié, Juazeiro, Paulo Afonso e Vitória da Conquista. Do estado do Ceará: Caucaia, Crato, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Maranguape e Sobral; Da Paraíba: Patos e Campina Grande; Do Rio Grande do Norte: Mossoró e de Alagoas, a cidade de Arapiraca.
De acordo com o coordenador técnico do G20 e secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Petrolina, Geraldo Júnior, as cidades participantes são as vinte mais fortes do Semiárido. Os municípios somam um Produto Bruto Interno (PIB) de R$ 50 milhões e uma população com média de 400 mil habitantes. “Temos analisado ao longo desses 20 anos que existe uma maior concentração nos investimentos das cadeias produtivas e financiamentos federais para a faixa litorânea do Nordeste, principalmente no que se refere às grandes obras de infraestrutura. Isso tem ampliado as desigualdades entre as próprias cidades da região”, explica.
Ainda segundo Geraldo, cada cidade tem uma dinâmica forte e estas áreas precisam ser potencializadas. “Petrolina tem a fruticultura e Mossoró, o petróleo e gás. Enquanto que Juazeiro do Norte, Caruaru e Toritama são ícones no segmento de confecções. Então o G20 quer que aconteça ampliação dessas cadeias produtivas e a diminuição da desigualdade dentro do Nordeste”, argumenta.
No dia 14 de agosto será realizada uma reunião no Sest/Senat em Petrolina com os secretários de planejamento das cidades do G20. Este é um encontro preparatório, onde vão ser apresentados e definidos os objetivos e metas a curto, médio e longo prazo. Já nos dias 22 e 23 de outubro, vai acontecer o encontro do G20, no auditório do Senai. Será aberto ao público e participarão gestores, especialistas e representantes de instituições de todo o país.

domingo, 2 de agosto de 2015

Desmatamento e poluição deixam leito do Rio São Francisco assoreado

Do Alto São Francisco, em Minas, ao nordeste, passando por Sobradinho, efeito do desmatamento e da poluição é visível no leito assoreado, onde bancos de sujeira se multiplicam e a vida definha

http://imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/06/02/653885/20150602000835669013a.jpg
Fornos de carvão diante de uma das plantações de eucalipto na região da Bacia do Velho Chico: cerrado derrubado alimentou siderúrgicas e terrenos desmatados deram lugar a monoculturas e à criação de gado

     Abaeté, Barra (BA), Felixlândia, Paraopeba, Pompéu, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias – A visão do Rio São Francisco se abrindo em águas escuras diante da proa do barco, até onde o olho alcança, é um alívio para o pescador Norberto dos Santos, de 65 anos. Minutos antes, ele percorria, com as narinas ardendo, as águas malcheirosas e turvas do Córrego Barreiro Grande, afluente do Velho Chico, para mostrar o lixo e o esgoto que descem sem tratamento pela correnteza, gerados pelos 30.600 habitantes da cidade de Três Marias. Como é um dos mais experientes navegadores da região, o pescador conhece atalhos no rio e pilota em uma área por onde despontam da água folhagens e aguapés. Em uma das manobras, porém, o barco para, em um tranco. Confuso, depois chateado, o pescador constata que o acúmulo de lixo, e sedimentos criou mais uma ilha de detritos no meio do curso d’água e fez a “voadeira” encalhar. Uma situação que se repete em diversos trechos, sobretudo no Alto Rio São Francisco, onde pesquisa inédita encomendada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) mostra que quase 60% da cobertura vegetal foi removida, permitindo que os sedimentos do solo desprotegido sejam levados pela chuva para dentro da calha.
     O assoreamento reduz ainda mais o volume de águas disponíveis para o rio como um todo e, de acordo com o comitê, teve impacto ainda maior com a redução dos reservatórios de Três Marias e Sobradinho (BA). No lago do interior da Bahia, o recuo de mais de 5 quilômetros das águas expôs as ruínas da antiga Remanso, inundada em 1974. Da cidade de que se despediram os compositores Sá e Guarabyra na música Sobradinho (“Adeus, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé, adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir”), ressurgiram no meio do sertão duas caixas d’água e estruturas de casas e edificações, denunciando a gravidade da estiagem. Em Três Marias, o aposentado Mahmud Lauar, de 80 anos, que se instalou às margens do lago no ano de sua criação, em 1958, diz nunca ter visto tão pouca água chegando à represa. “Os peixes estão acabando. Tem dias que só sobra para dar de comida à minha companheira de pescaria, esta garça, que chamo de Come Quieta”, afirma, indicando o pássaro.
     O pescador Norberto é um dos mais antigos da colônia de Três Marias e, por conhecer o São Francisco há 54 anos, transformou-se em um dos embaixadores do rio em congressos no exterior. Suas palavras mostram um drama vivido em várias partes do Velho Chico. “A culpa não é só da poluição. O desmatamento das barrancas, das matas ciliares e das florestas também vai acabar com o rio, porque a chuva traz esse sedimento todo para cá. O rio está ficando raso e cheio de bancos de sujeira, pneus e terra”, lamenta. De acordo com estudo da Nemus Consultoria, que atualiza o Plano de Recursos Hídricos do Velho Chico, 59% das áreas vegetais nativas do Alto São Francisco (da nascente até Três Marias) já foram devastadas. “O desmatamento (em toda a bacia) cresce a cada dia e está em mais de 47%, sendo que a região do Baixo São Francisco aparece como a área mais desmatada”, afirmou o mestre em geografia agrária Sílvio Machado, na apresentação dos dados.
     A impressão de Norberto, que muitos apelidaram carinhosamente de “Velho do Rio”, ganha amparo na visão de especialistas. “Boa parte do desmatamento se deveu ao ciclo do carvão. Cortaram-se as matas para se obter carvão para a produção de ferro-gusa nas siderúrgicas de Sete Lagoas e região. Hoje, o efeito disso é a abertura de espaços para a criação de gado e a expansão do eucalipto”, afirma o coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios (LGAR) do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Ricardo Mota Pinto Coelho. “O solo desprotegido, desmatado, desaba na beira do rio ou é levado pelas enxurradas para dentro do São Francisco. Assim ocorre o assoreamento”, reforça.
     CORTINA VERDE
 Para encontrar essas clareiras abertas na vegetação nativa é preciso conhecer as técnicas dos desmatadores. Observando as imagens de satélite com auxílio de especialistas, o Estado de Minas identificou vários pontos de corte. A tática consiste em abrir uma trilha mata adentro e iniciar a derrubada de árvores sempre deixando uma camada externa de vegetação, para dificultar que a fiscalização encontre o desmatamento.
     Protegido por esse tipo de cortina verde, a equipe do EM encontrou um grande ponto de corte de espécimes nativas no município de Paraopeba, no Alto São Francisco, a apenas 10 quilômetros da BR-040 (BH–Brasília). Depois de passar por uma sequência de fazendas e roças, chega-se ao local, uma clareira de 6 hectares – equivalente a seis campos de futebol – aberta para servir de pastagem ao gado depois que a madeira foi removida. De acordo com os trabalhadores rurais que pastoreavam no local, o cerrado derrubado virou carvão há dois anos. A passagem para a clareira é por um represamento feito em um córrego. As águas do manancial recebem todos os sedimentos carreados pelas chuvas na área descoberta de mata, chegando inevitavelmente à Bacia do Rio São Francisco.
     A devastação é observada em vários outros pontos ao longo da bacia, como em Abaeté, Pompéu, São Gonçalo do Abaeté e Felixlândia, mas também no Médio São Francisco, entre Minas e a Bahia. “Com o desmoronamento das barrancas, percebemos que o rio se torna mais largo e menos profundo. Seria necessário um programa extenso de reflorestamento, que deveria ocorrer dentro do programa de revitalização do Rio São Francisco, que o governo federal praticamente abandonou”, afirma o bispo de Barra, na Bahia, frei Luiz Cappio. No próprio município baiano, essa devastação é nítida. Tanto que, no antigo porto para as balsas que são a única forma de travessia para carros na região, o desmoronamento destruiu as rampas de concreto e ameaça as linhas de transmissão de energia elétrica.


Córrego Barreiro Grande carrega o esgoto dos 30 mil habitantes de Três Marias até o leito do Velho Chico

Verba para a revitalização do São Francisco é insuficiente e só parte dela foi liberada

Minas, que produz 70% da água da bacia, é o estado que mais demanda recuperação. Enquanto isso, assoreamento engole trechos inteiros do rio e mancha de algas tóxicas se estende por 28 quilômetros do leito

http://imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/05/31/653236/20150531080532407290e.jpg
Assessoria de Imprensa do Comite de Bacia do Rio Sao Francisco/Divulgacao
Nas proximidades da hidrelétrica de Xingó (AL), recuo da água deixou um tapete escuro de algas, as mesmas que contaminam o leito

     Cabrobó (PE), Salgueiro (PE), Barra (BA), Casa Nova (BA), Abaeté, Pompeu, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias – A revolta do bispo de Barra, frei dom Luiz Cappio, com a falta de recuperação do Rio São Francisco antes da obras de transposição se apoia em um quadro sombrio. Não apenas a revitalização deixou de ser implantada nas cabeceiras, que concentram 70% da água da bacia, em terras mineiras, como o Velho Chico hoje morre de sede em locais antes inimagináveis. A seca que sobe o curso se alastrou pelas maiores represas da bacia – Três Marias e Sobradinho (BA) –, prejudicando a pesca, a piscicultura e quebrando as safras. O assoreamento soterrou tantos trechos do leito que há pontos em que não se atravessa mais de barco. Entre as represas de Paulo Afonso (BA) e Xingó (AL), os baixos níveis de água associados à poluição e à manobras nas hidrelétricas propiciaram o aparecimento de uma mancha de algas tóxicas com 28 quilômetros de extensão e sete metros de profundidade, que deixou sem abastecimento as torneiras de oito municípios do sertão alagoano.
     A promessa de despoluição e revitalização feita pelo governo federal reservou R$ 2,3 bilhões para ações de reflorestamento, tratamento de esgoto e contenção de processos erosivos. O montante corresponde a pouco menos de 28% dos R$ 8 bilhões necessários, segundo cálculos de integrantes das câmaras consultivas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). O sucesso dessa ação poderia ter amenizado os efeitos da seca dos últimos três anos ao longo da bacia. Porém, desde 2008, apenas 1,7 bilhão foi investido em intervenções de recuperação ambiental pelo Ministério da Integração, segundo informações da própria pasta. O valor médio é de R$ 243 milhões por ano, considerado irrisório por ambientalistas, especialistas em hidráulica, biólogos e membros do CBHSF.
     Para Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, de revitalização do Rio das Velhas, um dos principais afluentes do Rio São Francisco, a prioridade claramente foi dada à transposição. “Os gastos com revitalização do São Francisco foram praticamente inexistentes”, afirma. O ambientalista destaca ainda que os recursos, além de insuficientes, vêm sendo mal empregados. “A maioria dessas ações são obras puramente sanitárias, que não respeitam critérios como os pontos mais críticos da bacia, mas sim questões políticas, como quais são os aliados políticos mais interessantes para se direcionarem os recursos.”
     Para o coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Ricardo Mota Pinto Coelho, a revitalização serviu apenas de chancela para engrenar a transposição. “Promessas como essa (de despoluir e revitalizar o Velho Chico) vêm sendo feitas nos últimos 100 anos, mas não se faz nada. O que temos visto é a drenagem das lagoas marginais, que servem de berçário aos peixes, a introdução de espécies exóticas e projetos difusos, que gastam sem eficácia.”
     O próprio presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, concorda que para o Rio São Francisco atravessar as estiagens históricas – que, segundo ele, tendem a se repetir devido às mudanças climáticas –, seria necessário investir em ações de revitalização. “O Rio São Francisco precisa de mais água. É uma situação muito grave, sobretudo em Minas Gerais, onde se concentra boa parte da produção dessa água”, disse. Há também, afirma, outras questões que precisam ser trabalhadas, como o combate ao desperdício dos usuários. “Uma medida importante, por exemplo, seria a substituição de processos de irrigação, que são ineficientes em quase todo o território. É necessário também construir mais reservatórios, para guardar água e minimizar chuvas intensas”, pontua.
     Já o Ministério da Integração considera parte do Projeto de Integração do São Francisco – que é como a pasta chama a transposição – as obras de política continuada e até intervenções de responsabilidade legal dos municípios que assinam convênios, como obras de saneamento. Esse cálculo elevaria a cifra gasta nessa área específica em cerca de R$ 34 bilhões, investidos desde 2008 em projetos que, segundo a pasta, beneficiaram a bacia do Rio São Francisco, como a construção de adutoras, canais, barragens e poços, incluindo as obras de revitalização que envolvem fornecimento de água, esgotamento sanitário, ligações intradomiciliares, controle de processos erosivos, gestão de resíduos sólidos, preservação de nascentes e matas ciliares.
     “O compromisso assumido desde 2008 pelo governo federal foi de realizar obras de infraestrutura hídrica em toda a região do semiárido, para garantir segurança na oferta de água para a população.” O investimento total na transposição, segundo o ministério, é de R$ 8,2 bilhões. “Destes, aproximadamente R$ 1 bilhão são para ações socioambientais”, informou a pasta, por meio de nota. Adicionalmente, segundo o texto, “estão em curso obras de saneamento em municípios que estão na área das bacias hidrográficas que compõem o Rio São Francisco, que vão contribuir com a preservação e a revitalização do rio, por diminuir o lançamento de esgoto e resíduos e o assoreamento de seu leito”. Essas obras estão sob responsabilidade dos ministérios das Cidades e da Saúde.


A Proposta
  • A transposição tem justificativa de garantir a segurança hídrica para 12 milhões de pessoas em 390 municípios no Nordeste Setentrional (Pernambuco, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba);
  • O custo estimado é de R$ 8,2 bilhões e o término das obras está programado para 2016;
  • A água retirada do São Francisco será injetada por meio de bombeamento em 477 quilômetros de canais e leitos de rios;
  • O empreendimento prevê a recuperação de 23 açudes e construção de 27 reservatórios, capazes fornecer 6 mil litros de água por segundo;
  • Segundo o governo federal, as obras estão em andamento e serão entregues a partir deste 
ano, com previsão de término em 2017;
  • O empreendimento apresenta, sete anos depois de iniciado com pelo menos quatro anos de atraso, 74,5% de execução física.
http://imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/05/31/653236/20150531072443336418i.gif

TRANSPOSIÇÃO DE PROBLEMAS: Pequenos produtores não têm como retirar água dos canais gigantescos do São Francisco

Pequenos produtores, que segundo o discurso oficial estariam entre os principais beneficiados pela transposição do São Francisco, hoje não têm como retirar água dos canais gigantescos. Outros sofrem com o recuo de lagos sugados pela pior estiagem em 84 anos, como ocorre em Três Marias

     Cabrobó (PE), Salgueiro (PE), Casa Nova (BA), Abaeté, Pompeu, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias – As cabras que perambulam pela propriedade do agricultor pernambucano Francisco Alves Leite, de 60 anos, já comeram tudo o que restou do milho ressecado e das melancias murchas, que ele tinha plantado. Sem água, todo o cultivo de um hectare morreu no pé e os brotos viraram ração. “Ainda tenho água de chuva no açude por mais dois meses... Quando acabar, vai ser só Deus”, lamenta o agricultor. Por suprema ironia, graças à obra de transposição do Rio São Francisco, a água do Córrego Mulungu, que era usada para irrigar as propriedades vizinhas, foi parar no Canal Norte do projeto, que corta a propriedade do agricultor no município de Salgueiro (PE). “Não temos motor ou bomba elétrica para tirar a água do canal, que tem mais de 20 metros (de profundidade). Estamos perdendo nossa plantação e as criações pela seca, enquanto o canal está cheio de uma água que ninguém usa”, reclama.
     A calha do Rio São Francisco ainda está longe do canal que passa pela terra do agricultor, mas sua situação é emblemática, por enfrentar a seca à beira de uma transposição cuja execução se deu sob a justificativa de levar água ao sertanejo e ao mesmo tempo investir em ações para despoluir e revitalizar o Velho Chico – como foi prometido pelo governo federal em 2005. Pelo menos quatro anos atrasada, a transposição trouxe por enquanto apenas a sede. Nesse meio tempo, a bacia sofre com a seca mais calamitosa dos últimos 84 anos, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Segundo os últimos dados do IBGE, de 2013 e 2012, sobre os municípios pernambucanos de Cabrobó, Floresta e Salgueiro – onde há água acumulada nos canais – sete dos oito cultivos predominantes (banana, coco-da-baía, cebola, tomate, manga, maracujá e melancia) apresentaram queda de produtividade.
     Uma crise completa, que abrange das nascentes do Rio da Integração Nacional, que chegaram a secar na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a foz, em Piaçabuçu (SE), onde o avanço da água do mar leito adentro já chega a mais de 20 quilômetros. “Vemos que a crise é grave quando olhamos para a região do Alto São Francisco, em Minas Gerais, de onde vêm 70% das águas da bacia, que sofrem com assoreamento e níveis baixíssimos de mananciais”, alerta o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Maciel Oliveira.
Na bacia mineira do Velho Chico, a seca é tão intensa que o Lago de Três Marias, na Região Central de Minas, chegou a 2,8% de seu volume útil em outubro do ano passado. Neste mês, está em 37%. Sem alcançar mais as águas que usavam para irrigar seus cultivos, os agricultores vêm perdendo suas safras desde o início da estiagem prolongada, em 2013. Das oito principais lavouras de municípios do entorno, cinco (arroz, feijão, mandioca, maracujá e melancia) apresentaram retração no comparativo com 2012, ano de chuvas abundantes.
     Até o abastecimento público foi prejudicado com as manobras de retenção e liberação de água do reservatório, realizadas a favor da regulação do lago de Sobradinho, entre a Bahia e Pernambuco. “A situação foi ao limite. A população de Pirapora (de 56 mil habitantes, no Norte de Minas) ficou sem água, e esse perigo ainda não foi afastado. Estamos agora investindo em ações para saber quais as dificuldades e necessidades das populações ribeirinhas em caso de nova seca prolongada”, afirma a presidente do Comitê da Bacia do Entorno da Represa de Três Marias, Silvia Friedman.
     O drama dos produtores que dependem do lago de Três Marias é também vivido pelos que cultivam em Sobradinho, reservatório que atualmente opera a 22% de seu volume útil. De acordo com o último levantamento da produção agrícola do IBGE, entre 2013 e 2012, das 14 culturas principais plantadas naqueles municípios, nove (banana, goiaba, limão, manga, cebola, mandioca, melancia, melão e tomate) sofreram quebra de safra.
     Ao ver as melancias se perdendo na roça no município baiano de Casa Nova, o olhar de desânimo do lavrador Joildo Narcisio dos Santos, de 50, espelha o do pernambucano Francisco, que passa sede à beira do canal da transposição. Os dois viram suas roças dos mesmos frutos murcharem por falta de água para irrigação. Mas, no caso do baiano, o recurso está a mais de cinco quilômetros, a distância que o lago de Sobradinho fica agora de sua plantação. “Não vem mais água do céu e parece que não chega mais água no rio. Debaixo deste sol, a melancia não ‘encheu’. Para não perder tudo, soltamos os bodes na roça para pastar”, afirma Joildo. Situação tão dramática quanto a dos últimos anos, ele diz nunca ter vivido. “Como pode a gente estar morrendo de sede na beira de um mundaréu de água destes?”, indaga.
     A situação precária do rio lança mais críticas ao projeto de transposição. Segundo Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão – de revitalização do Rio das Velhas, um dos principais afluentes do Rio São Francisco –, um dos motivos para isso é justamente o fato de não haver planos para auxiliar o sertanejo que verá a água passando em canais bem à sua frente, mas continuará convivendo com a sede. “Já não há água para as atividades rotineiras na bacia, e isso não está sendo resolvido. Vai-se sacrificar ainda mais o rio, para eventualmente as barragens no Ceará e Piauí concentrarem uma água que dificilmente chegará aos consumidores, mas estará disponível para o agronegócio”, acusa.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/05/31/interna_gerais,653262/pequenos-produtores-nao-tem-como-tirar-agua-dos-canais-do-sao-francisc.shtml

sábado, 1 de agosto de 2015

Aumento das taxas de energia não é uma tendência, diz secretário

Secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Eduardo Barata fala em situação passageira e promete investimentos em novas matrizes energéticas



     O não-aumento da tarifa de energia foi uma das bandeiras de campanha de Dilma Rousseff durante a disputa pela reeleição no ano passado. Desde janeiro deste ano, entretanto, o consumidor recebe a conta de luz mais cara, graças ao alto custo da produção elétrica no País. Para o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Eduardo Barata, a situação é passageira.
     Durante o evento Diálogos Capitais - Infraestrutura: O Motor do Crescimento, promovido por CartaCapital nesta segunda-feira 15 em São Paulo, Barata prometeu produção de energia por meio de novas matrizes, que devem baratear o custo, também para o consumidor.
     Barata negou que a decisão de reduzir a tarifa fosse um erro estratégico. Segundo ele, havia um "desejo real" do governo pela diminuição dos preços, mas as condições climáticas não favoreceram, por terem ido "na contramão dos movimentos de redução da tarifa". "Até a última década, acreditava-se que a matriz energética do País era apenas de origem hidrelétrica. Porém, com as alterações climáticas vividas principalmente a partir de 2013, passou-se a produzir energia prioritariamente de maneira térmica de alto custo, por meio de petróleo e óleo diesel”, destacou. Segundo o secretário, como a necessidade deste tipo de energia deve continuar por algum tempo, o governo fará leilões para contratar energia térmica mais barata, como gás e carvão. 
     Além de buscar opções térmicas mais em conta, o governo deve procurar alternativas em termos de matriz energética. “Nos últimos anos, o clima não tem ajudado e é preciso desenvolver outras formas de suprir o setor nos próximos anos”, disse. Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ, concorda. Para ele, o foco do governo deve ser no aumento de investimentos e na busca por fontes alternativas de energia. “Temos os modelos eólico e solar como possibilidades, o bagaço da cana, além do lixo urbano, comumente direcionados aos aterros", diz. "Se hoje ele é um problema, o seu uso para fonte de energia é a solução, como ocorre em países como Japão e Estados Unidos.”
     Os painéis de captação solar também foram citados e os dois afirmaram que é preciso investir mais na produção e distribuição elétrica dessa modalidade, apesar das despesas elevadas em infraestrutura. Segundo Barata, já há a redução de ICMS da energia solar em estados brasileiros como medida de estímulo não só em captação elétrica, mas também de distribuição do excedente pelo próprio consumidor. Além disso, afirmou o secretário, há proposta em estudo no Ministério da Fazenda para redução de PIS/Cofins para a energia solar. A intenção é estimular investimentos no segundo semestre, com dois leilões voltados à contratação de energia renovável, além do projeto-piloto da matriz solar em reservatórios de usinas hidrelétricas em Balbina (AM) e Sobradinho (BA). 
    De acordo com Pinguelli, o Brasil possui ampla vantagem nessa modalidade, ao contrário da energia eólica. “Além da intermitência no fornecimento por meio dos ventos, os atuais modelos de hélices no mercado não são compatíveis ao clima do país. Precisamos tropicalizá-los para que sejam uma alternativa.”
     Em relação à energia nuclear, Barata reforçou que é uma possibilidade a ser discutida e, futuramente, mais quatro usinas devem ser construídas. Já o diretor da Coppe discordou em relação ao alto custo de implementação, além dos possíveis danos ambientais. “Embora com desempenho promissor em Angra III (RJ), o que é produzido em decorrência dos reatores é um problema não só para o Brasil, mas no mundo”, destacou.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/dialogos-capitais/aumento-das-taxas-de-energia-nao-e-uma-tendencia-775.html

Ararinhas-azuis: filhotes brasileiros e quiçá uma UC

ararinha2a1
Os dois novos filhotes de ararinha-azul, nascidos em cativeiro no Brasil, reforçam os planos de reintroduzir a espécie de volta a seu habitat até 2021. Foto: Leonardo Milano/ICMBio

      Manaus, AM - O Ano Novo traz uma grande esperança para dois filhotes de ararinhas-azuis, nascidos há dois meses no cativeiro no interior de São Paulo: a possibilidade do governo federal criar uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável com 44 mil hectares, em Curaçá (BA), região onde viviam os últimos da espécie em vida livre. A proposta da reserva já está pronta e a criação já foi até anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente, em maio. Agora só falta virar realidade.
     As ararinhas-azuis nasceram entre os dias 25 e 27 de outubro, no interior de São Paulo, em uma instituição privada, o criadouro científico Nest, que tem o endereço sigiloso por questões de segurança. São os primeiros filhotes a nascer no Brasil, desde o ano 2000. A intensão é reproduzir a espécie em cativeiro até atingir um número suficiente para que seja feita a reintrodução no ambiente natural. A expectativa é chegar a 150 aves em cativeiro antes de iniciar a soltura, prevista para acontecer até 2021.
     O diretor de Conservação da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil), Pedro Develey, explica que nessa região da caatinga se destacam as matas ciliares, com caraibeiras, uma espécie de ipê que chega a 20 metros de altura. "Elas tem porte necessário para suportar cavidades de tamanho suficiente para o ninho de uma ararinha", explica. Além disso, é uma região bem conservada, situação diferente de áreas próximas ao município de Juazeiro (BA) ou a outra margem do rio São Francisco, em Pernambuco, que já estão bastante degradadas.
     A área protegida serviria também para proteger outros animais da caatinga, que ainda são encontrados por lá, como o tatu-bola. "A ararinha acaba sendo uma bandeira para outras espécies", afirma Develey. De acordo com ele, a proposta de ser um Unidade de Uso Sustentável se deve a presença de população humana e à criação de cabras na região. "Não tem como tirar as pessoas de lá e isolar a área. E não vamos conseguir tirar todas as cabras dali", explica Develey. "A idéia da integração é possível e aí você vai ter as pessoas como aliadas. Vão ver que a Unidade de Conservação ali foi positiva", completa. Entre as propostas, estão a concessão da bolsa verde a moradores da região.
Filhotes de ararinha

ararinha3a
"Filhotes estão saudáveis e se desenvolvem de maneira excepcional", diz o pesquisador Ramiro Dias. Foto: Leonardo Milano/ICMBio
   
   A ararinha-azul teve sua população dizimada principalmente devido ao tráfico de animais. Hoje, existem 99 em cativeiro, 13 no Brasil, incluindo os filhotes. O projeto de reintrodução é coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do ICMBio (Cemave) e conta com parceria da Vale e organizações sem fins lucrativos, como o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil). A última reprodução em cativeiro no Brasil havia ocorrido há 14 anos, quando nasceu Flor, mãe dos dois filhotes nascidos em outubro. A Al-Wabra Preservação da Natureza, do Catar, e Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, em inglês) e a Fundação Lymington também participam do programa.
     Os filhotes nasceram com cerca de 15 gramas (os adultos pesam entre 310 e 340 g) e, nas primeiras semanas, a alimentação foi feita pelos pais, sem interferência dos cuidadores. Depois, passou a ser feita manualmente. Eles estão saudáveis e se desenvolvem de maneira excepcional, segundo o veterinário do Nest, Ramiro Dias. O sexo dos bebês ainda não é conhecido e só deve ser revelado após análises genéticas. Os nomes das ararinhas devem ser escolhidos em uma votação pública, a ser promovida pelo ICMBio.
ararinha3b
Foto: Leonardo Milano/ICMBio

ararinha1Foto: Leonardo Milano/ICMBio

Fonte: http://www.oeco.org.br/noticias/28845-ararinhas-azuis-filhotes-brasileiros-e-quica-uma-uc