quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Água em Sobradinho cai a níveis críticos

Volume útil da barragem cai para 3,53% e já ameaça geração de energia no Nordeste


Até a manhã de ontem, o volume útil de água na Barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco, e que responde por 58% da geração de energia para a Região Nordeste, tinha caído para 3,53%, considerado um nível crítico, com riscos para a geração de energia e para o atendimento aos perímetros irrigados das regiões de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE)  até os estados de Alagoas e Sergipe.
Segundo os dados do Operador Nacional do Sistema (NOS) em apenas um dia, do dia 2 até às seis horas de ontem, o volume útil do lago de Sobradinho passou de 4,15% para 3,53%, uma perda de 0,62 pontos percentuais, indicando que até o final da próxima semana o lago da barragem deverá atingir o que os técnicos chamam de volume morto, que é quando a água só poderá ser puxada através de bombeamento e não mais poderá gerar energia.
O ONS informou que mesmo nessa situação, deverá manter a vazão de Sobradinho (a água que sai das comportas da barragem em direção a Juazeiro) em 90 metros cúbicos por segundo, garantindo o mínimo de volume pára a Barragem de Itaparica, na divisa da Bahia com Pernambuco, que por sua vez regula o fornecimento de água para o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso e Xingó.
Ainda segundo informação da Assessoria de Comunicação do ONS, por enquanto não foi emitido quaisquer avisos para  os perímetros irrigantes e muito menos houve qualquer alteração que indique alterações na política de geração de energia. A próxima reunião, no dia 30 deste mês, vai definir se será mantida ou não a atual vazão do rio. Sobradinho está com uma afluência de 500 metros cúbicos por segundo de água , enquanto libera peras comportas um volume de 900 m³/s.

Cenário crítico
Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo  Miranda, o cenário é bastante crítico, sobretudo nas perspectivas da geração de energia.”O lago não vai secar, mas com o volume morto vai  ter de parar o fornecimento de água para a geração de energia e vai trazer complicações para os perímetros irrigados das regiões após a barragem (ajuzante)”, disse.

Miranda destaca que toda a navegabilidade no São Francisco já está prejudicada e que uma redução da vazão de Sobradinho, de 900 para 800 metros, vai trazer impactos ainda mais drásticos, interferindo diretamente na qualidade da água consumida pelas populações abaixo da barragem. O Comitê pretende fazer pressão para que na reunião da Agência Nacional de Água (ANA), marcada para o próximo dia 30, em Brasília, seja mantida a vazão mínima de 900 m³/s, na esperança de que as chuvas ocorram.
Para o senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, o cenário é crítico e próximo ao caos. Ele defende que o Governo Federal decrete situação de emergência na bacia do Rio São Francisco e inverta a lógica dos investimentos em transposição para revitalização de forma urgente. “Já se gastou R$ 8,5 bilhões na transposição e nada na revitalização”, acusa.
Ainda segundo Otto Alencar, com a decretação da situação de emergência, o Governo federal poderá captar recursos internacionais para investir em programas de revitalização do rio. “Com 700 milhões por ano e  em um prazo de 10 anos, recupera-se a bacia como um todo”, diz o senador. Conforme disse, com o processo de assoreamento, mesmo a água que venha a ser liberada na Barragem de Três Marias, no norte de Minas, terá dificuldades para chegar em Sobradinho, se não for em um volume significativo. “No ano passado a bacia recebeu 28 milhões de toneladas de sedimentos que destrói suas margens e entope a calha do rio”, completou.
Monitoramento diário
Toda a situação na bacia do Rio São Francisco vem sendo monitorada diariamente por técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA), do Operador Nacional do Sistema (NOS) Instituto do Meio Ambiente (Ibama) e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Os técnicos medem não só o volume de água que entra e sai do lago de Sobradinho, mas também das barragens de Três Marias e Itaparica, e também as vazões nos postos pluviométricos de Bom Jesus da Lapa e Morpará, no Este da Bahia.

Face à ocorrência de sucessivos eventos críticos e à necessidade de acompanhá-los em tempo real, de forma sistemática e pró-ativa, fornecendo respostas com maior agilidade e precisão, foi criada a Sala de Situação da ANA, cujo principal objetivo é acompanhar as tendências hidrológicas em todo o território nacional, com a análise da evolução das chuvas, dos níveis e das vazões dos rios e reservatórios, da previsão do tempo e do clima, bem como a realização de simulações matemáticas que auxiliam na prevenção de eventos extremos.
O espaço é um centro de gestão de situações críticas e subsidia a tomada de decisões da Diretoria Colegiada da ANA, principalmente na operação de curto prazo de reservatórios, por meio do acompanhamento das condições hidrológicas dos principais sistemas hídricos nacionais de modo a identificar possíveis ocorrências de eventos críticos, o que permite a adoção antecipada de medidas mitigadoras com o objetivo de minimizar os efeitos de secas e inundações. 
Funciona como um centro de gestão de situações críticas e subsidia a tomada de decisões por parte de sua Diretoria Colegiada, em especial, na operação de curto prazo de reservatórios, através do acompanhamento das condições hidrológicas dos principais sistemas hídricos nacionais de modo a identificar possíveis ocorrências de eventos críticos, permitindo a adoção antecipada de medidas mitigadoras com o objetivo de minimizar os efeitos de secas e inundações. 
Audiência pública na cidade de Barra vai discutir situação do Rio
Amanhã representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco vão realizar audiência pública na cidade Barra, no Oeste Baiano, para discutir a situação do rio. É a terceira consulta pública para atualização do Plano Decenal de Recursos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. O evento ocorrerá no Auditório Antônio Batista Pinto (antigo Auditório Padre Alkmim, anexo à escola Sylvia Araújo), , das 9h às 13h.
As duas audiências anteriores aconteceram nas cidades de Pão de Açúcar, Alagoas, e  Divinópolis em Minas Gerais .A próxima audiência vai acontecer em Rodelas, Norte do estado, no dia 11. O Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco está sendo planejado para o decênio 2016/2025, e traçará as diretrizes de aproveitamento da água na bacia, além de oferecer subsídios para uma gestão racional e integrada em vários aspectos relacionados com a sustentabilidade do rio São Francisco. 

Conforme explicou o presidente do Comitê, Anivaldo Miranda, os estados têm investidos pouco na gestão dos recursos hídricos, especialmente na Bacia do Rio São Francisco. “É preciso mais fiscalização nas outorgas, na gestão e uso das águas e principalmente nos investimentos em programas de revitalização. Estamos discutindo uma agenda de crise, mas é preciso criar uma agenda para o futuro”, advertiu.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é um órgão colegiado, integrado pelo poder público, sociedade civil e empresas usuárias de água, que tem por finalidade realizar a gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos da bacia, na perspectiva de proteger os seus mananciais e contribuir para o seu desenvolvimento sustentável. A diversidade de representações e interesses torna o CBHSF uma das mais importantes experiências de gestão colegiada envolvendo Estado e sociedade no Brasil.