segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O desequilíbrio ambiental na foz do rio São Francisco

Robson Duarte Barreto        


        O São Francisco é o terceiro maior rio do Brasil, com nascentes na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e percurso de 2.696 km até a sua foz no Oceano Atlântico, na divisa de Alagoas e Sergipe (ANA, et al., 2004 apud GONDIM FILHO, et al., 2012). Sua bacia hidrográfica ocupa 8% do território nacional (638.576 km2), estendendo-se pelos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe e o Distrito Federal. Engloba 503 municípios, dos quais 451 têm sede na bacia. A maior parte da área da bacia hidrográfica do São Francisco encontra-se nos estados da Bahia (48,2%) e de Minas Gerais (36,8%) (GONDIM FILHO, et al., 2012).

O município de Piaçabuçu-AL, último da margem esquerda, situa-se entre o oceano Atlântico e o São Francisco, que o presenteia com o conjunto de belas praias fúlvio-marinhas. É conhecido como a "Capital Alagoana das Palmeiras".
                                                         
                                                      Figura: 1

                                    Foto: BARRETO, 2014.

A vegetação entre a divisa de Alagoas e Sergipe é de manguezal (nas partes sob influência da água do mar), vegetação de restinga, vegetação típica de lagoas de água doce, campos limpos e campos sujos. Observou-se que uma parte substancial deste ecossistema ainda está preservado.
 O povoado de Cabeço, no lado sergipano, localizado em ilha na foz do São Francisco, experimentou os efeitos mais devastadores da erosão marinha. Em poucos anos, o mar invadiu casas e construções da comunidade pesqueira, que tinha 400 moradores. Segundo o guia de nossa excursão, o processo erosivo começou a partir do ano 1994 e a completa evacuação do povoado foi concluída no ano 2000. A perda da vila provocou grande efeito psicológico nos moradores que perderam suas casas. A erosão começou a acontecer vagarosamente, porém, em dois anos aumentou sua intensidade. De início eram poucas casas atingidas, mais tarde, um número maior de casas passou a ser alcançada, inclusive a Igreja de São Francisco, com extrema rapidez fazendo com que todo o povoado saísse da localidade. 
Os moradores que perderam suas casas e foram realocados em um assentamento chamado Samarém, localizado cinco quilômetros rio acima prejudicando, desta forma, a comunidade do Cabeço que vivia da pesca. Da vila só sobrou o velho farol do século 19 (Figura 2), que ficava em terra e hoje está a dezenas de metros da costa.

                                                      Figura: 2

Foto: BARRETO, 2014.

       O desequilíbrio ambiental ocorrido nesta região foi devido à construção da Usina Hidrelétrica de Xingó, que reduziu a vazão do rio São Francisco permitindo, desta forma, que o mar empurrasse as águas adentrando em áreas, antes não atingidas. Hoje é possível ver a presença de plantas, como o “Avencão” (Figuras 3) e o manguezal em áreas caracterizando aumento da salinidade.
                                                        Figura: 3
                                                             
Foto: BARRETO, 2014.

          A (Figura 4) mostra a margem norte da foz do São Francisco. A consequência foi o acúmulo de sedimentos, como mostra a foto, que aumentam a cada dia empurrando a força do mar que avança sobre o rio. Sobre a margem direita, local onde existia a comunidade.

                                                       Figura: 4
Foto: BARRETO, 2014.

A (Figura 4) mostra a foz que já apresenta pouca profundidade em virtude dos sedimentos que se acumulam por causa do impacto entre a força do rio e a corrente proveniente do mar. O Farol foi a única peça que sobrou da ação erosiva do mar. O processo erosivo provocado pelo avanço da água salgada, que se estende pela margem do São Francisco, em áreas que há alguns anos eram utilizadas para o plantio de arroz.
Com o desmatamento da mata ciliar, não há barramento contra as chuvas que arrastam sedimentos e plantas para as áreas mais profundas do rio, criando desta forma, áreas de impacto que impedem os sedimentos de passar formando novas ilhas.
        Observa-se na (Figura 5) a formação de ilhas devido ao acúmulo de sedimentos sobre os quais a vegetação se desenvolve rapidamente. 
                                                      
                                                        Figura: 5
Foto: BARRETO, 2014.

          A (Figura 6) mostra um dos pontos de desmatamento e assoreamento que vai se estendendo para o leito do rio favorecendo o acúmulo de sedimentos que descem junto às margens provocando o estreitamento do canal.

                                                                        Figura: 6
                                                     Foto: BARRETO, 2014.

A erosão na foz do São Francisco é considerada marinha. A constante direção dos ventos de SE a NW e os movimentos das marés contribuíram para o cenário atual. O assoreamento visto, nos pontos muito próximos a foz e a alguns quilômetros, era um indicador de que a mata ciliar havia sofrido erradicação ao longo da bacia hidrográfica. Consequência da ação antrópica às margens do rio ao longo dos últimos séculos.
Sabe-se que sem a proteção da mata galeria ou ripária, a erosão leva a terra para dentro do rio, tornando-o barrento, dificultando a entrada de luz solar e assim, prejudicando a vida dos organismos que servem de alimento para os peixes, podendo ocasionar a morte de várias espécies. Além disso o rio perdeu ao longo do tempo competência em transportar os sedimentos até foz.
Para iniciar o processo de revitalização faz-se necessário: Levantamento das áreas degradadas; Selecionar as áreas a serem beneficiadas com o plantio de mudas nativas; Desenvolver atividades voltadas à educação ambiental; Reconstituir suas margens com espécies vegetais do ambiente fluvial; Respeitar uma extensão específica, de acordo com a largura do rio, e as nascentes; Cobrar dos representantes do Poder Público Federal o cumprimento das Leis Ambientais.  
Na bacia do rio São Francisco deixa transparecer a necessidade de um maior amparo de políticas públicas voltadas para a gestão ambiental.


Referências

GONDIM FILHO, Joaquim Guedes Corrêa ; FIOREZE, A. P.; MENDONÇA, B. C. de Sá; PINTO, C. G.; COIMBRA, M. R. S. C. A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco: usos, balanço hídrico, gestão e desafios. In: A Questão da Água no Nordeste. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Agência Nacional de Águas. – Brasília, DF: CGEE, 2012. p.; il, 24 cm

Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/CEDOC/Catalogo/2012/aQuestaoDaAguaNoNordeste.pdf