quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Vazão do São Francisco permanecerá em 800 m³/s

O impasse dominou a reunião promovida nesta segunda-feira (10.10) pela Agência Nacional de Águas (ANA) para analisar os impactos da vazão reduzida no reservatório de Sobradinho, na Bahia. O motivo está na discordância da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) em assumir os custos relativos aos estudos que atendam as condicionantes fixadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) antes de conceder a autorização para reduzir a vazão de 800 para 700 metros cúbicos por segundo (m³/s).
Da relação de exigências apresentadas pelo Ibama, a Chesf disse que não lhe caberia assumir os custos de estudos que versam sobre lagoas marginais; socioeconômicos; monitoramento da fauna; e monitoramento da água subterrânea.O superintendente da Chesf, João Henrique Franklin, argumentou que a companhia é apenas uma concessionária, motivo pelo qual não lhe caberia assumir os custos relativos às exigências apresentadas. Com isso, a vazão permanece no patamar atual, de 800 m³/s.
A posição da Chesf foi informada na reunião da ANA, mesmo após encontro entre os dois entes, na semana passada. Na oportunidade, a Diretoria de Licenciamento do Ibama, responsável por analisar o pedido, modificou os termos, sem alterar o escopo das condicionantes. A posição da Chesf desencadeou um amplo debate com entendimentos favoráveis e contrários a essa postulação. O presidente da agência federal, Vicente Andreu, sugeriu que as decisões relativas à redução de vazão sejam transferidas para o dia 17 de outubro, ficando todos na expectativa de que até lá possa haver consenso entre as instituições.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, participou da reunião no escritório do colegiado, em Maceió (AL), por videoconferência. Representantes de outros entes envolvidos na questão também participaram das discussões.

Defesa Civil teme colapso de água em Sergipe por causa da seca

Ações emergenciais podem evitar o agravamento do problema.
'Solo esgotado e pastagem seca afetam rebanho de gado', lamentou criador.



Gado procura proteger-se sob a sombra do juazeiro (Foto: Anderson Barbosa/G1)

O coordenador Estadual da Defesa Civil, major Erivaldo Mendes, não descarta o risco de um colapso de água nos municípios sergipanos de Cedro de São João, Telha e Propriá, localizados no Baixo São Francisco, e também na capital, onde cerca de 60% do abastecimento vêm do Velho Chico. “Com a vazão do Rio São Francisco baixada para 700 m³/s, a captação que a Deso faz fica comprometida e traz o risco de colapso no abastecimento nestas três cidades, além de atingir cerca de 1 milhão de pessoas na Grande Aracaju, que recebem água da Adutora do São Francisco”, declarou.
A captação da Adutora do São Francisco está localizada em Telha, a 107 quilômetros da capital, município que está entre os 18 de Sergipe em situação de emergência reconhecida pelo Governo do Estado, assim como Cedro de São João e Propriá, que aguardam a análise do Ministério da Integração Nacional.  “Este reconhecimento do Governo Federal é muito importante para a execução das ações emergenciais”, observou.
A Defesa Civil de Sergipe já decretou situação de emergência nos municípios de Itabi, Frei Paulo, Macambira, Canindé de São Francisco, Capela, Gararu, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora Aparecida, Pinhão, Poço Redondo, Poço Verde, São Domingos, Telha, Carira, Ribeirópolis, Propriá, Cedro de São João e Gracho Cardoso.
Mendes informou ainda que a Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco (Codevasf) vai desenvolver uma dragagem de um canal, onde está situada a captações, para evitar o esgotamento da água.  “Então, precisa dessa emergência para que a obra seja feita de maneira mais célere pela companhia”, frisou  o coordenador.
Com a decretação federal, os municípios também passam a desfrutar de benefícios como a perfuração de poços e a operação carro-pipa, que é aplicada pelo Exército. Atualmente, o 28º Batalhão de Caçadores, situado em Aracaju, desenvolve um trabalho com 11 municípios de Sergipe e 22 da Bahia.
“Cerca de 200 mil pessoas estão sendo atendida pela operação carro-pipa. Os municípios são selecionados pela Secretaria de defesa Civil do Governo Federal e o Exército executa através do Ministério de Defesa e Comando de operação Terrestre”, explicou o comandante do 28º batalhão de Caçadores, coronel Marcos Aurélio Küster de Paula.
Reservatórios estão secando no município de Cedro de São João (Foto: Anderson Barbosa/G1)

“O Estado tem ajudado aos municípios primeiro na decretação, já que o processo é muito técnico e precisam saber como fazer dentro da lei. Também desenvolve ações práticas como perfuração de poços em municípios que estão dentro do cenário de seca e na colocação de dessalinizadores”, explicou major Mendes.
O tom da seca

A estiagem prolongada tem devastado o verde da pastagem na Região do Baixo São Francisco, em Sergipe. No município de Cedro de São João, distante 89 km de Aracaju, os efeitos da seca podem ser observados em toda a sua extensão.

O céu azulado e com poucas nuvens não é um bom sinal para o homem do campo, que sabe que a chuva vai demorar para chegar. “A situação é triste. O ano passado foi até bom, mas este ano está assim, seco. Faz dois meses que não chove bem. Acredito que deve piorar ainda mais e vamos ter que esperar as trovoadas de inverno. Solo esgotado e pastagem seca afetam rebanho de gado”,  lamentou o criador José Carlos Moraes.
Para protegerem-se do sol forte, os animais buscam abrigo na sombra de juazeiros, que ainda resistem às altas temperaturas que chegam a 32º. Lagos e açudes começam a perder o volume de água, a terra começa a rachar e os animais entram num processo de perda de peso. “Quem tem gado de corte está matando para não ter mais prejuízo, mas vende a preço muito baixo. Já quem tem vaca leiteira, está gastando mais com ração que não está nada barato”, observou.
Cedro, Telha e Propriá são os últimos municípios que tiveram a decretação de estado e emergência aceita pelo Governo do Estado e nos próximos dias deve ter o reconhecimento do Ministério da Integração Nacional. “O problema da seca é predominante econômico, então a decretação viabiliza os produtores de terem acesso ao refinanciamento das suas dívidas, por terem perdido as lavouras”, disse o coordenador Estadual da Defesa Civil, major Erivaldo Mendes.
Água em Discussão

A crise de água na Região Nordeste e a situação do Rio São Francisco serão tratados no XIII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, entre os dias 8 e 11 de novembro no Hotel Radisson, em Aracaju. O evento é organizado pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) e traz como tema “Governança da Água – Desafio para Integração do Nordeste no Presente e Futuro”.


O Simpósio de Recursos Hídricos tem como objetivo estimular e divulgar o conhecimento técnico-científico e está aberto para universitários, professores, empresários, consultores ambientais, profissionais ligados a recursos hídricos e meio ambiente,  representantes de organismos não-governamentais, representantes dos órgãos de Governo, entre outros.
Estiagem prolongada muda cenário no Baixo São Francisco de SE (Foto: Anderson Barbosa/G1)