Projeções do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) mostram que, se não voltar a chover na região, Sobradinho deve atingir, em meados de dezembro, o volume morto - reserva de água abaixo do ponto de captação que representa 15% da capacidade total do reservatório. Se isso ocorrer, a usina hidrelétrica, que já opera com menos de 20% de sua capacidade, deixaria de operar. Segundo o ONS, contudo, não há risco de racionamento, pois é possível usar fontes alternativas, como térmicas e eólicas, e transferir energia de outras regiões por meio de linhas de transmissão.
Atualmente, as hidrelétricas representam 33% da energia gerada no Nordeste. A iminência do nível zero preocupa produtores de frutas do perímetro irrigado Nilo Coelho, em Petrolina (PE) e Casa Nova (BA), que têm produção anual de R$ 1,1 bilhão. O sistema atual retira água diretamente do reservatório, mas não é preparado para funcionar abaixo do volume morto. Para permitir o aproveitamento dessa água, a Codevasf, estatal ligada ao Ministério da Integração, iniciou em setembro obras de instalação de bombas flutuantes e construção de um canal de captação, com conclusão prevista para 15 de dezembro. "Se chegar a esse limite e as obras não estiverem prontas, a irrigação para. Se parar, deixa de atender 2.322 produtores, além de 130 mil pessoas que usam água do sistema para consumo", afirma Paulo Sales, gerente-executivo do Distrito de Irrigação Nilo Coelho.
Para manter mais água na represa, a ANA (Agência Nacional de Águas) já autorizou a redução da vazão de Sobradinho de 1.300 m³/s para 900 m³/s - e avalia reduzir ainda mais, para 800 m³/s. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, critica a redução. "Os impactos ambientais são terríveis, como o assoreamento do leito, a erosão das margens e a água salina que avança na foz do rio", criticou. Uma das principais preocupações é o consumo humano. Com a vazão menor, o nível da água baixou, exigindo adaptações nos sistemas de captação. Em Remanso (BA), por exemplo, a água já recuou seis quilômetros. "As prefeituras estão tendo custo maior para bombear. Em algumas cidades, ainda captam do mesmo lugar, onde só tem uma poça de água barrenta", disse Silvana Leite, membro do comitê gestor do lago de Sobradinho.
Navegação interrompida
A seca prolongada no São Francisco também afeta a pesca, com a redução de espécies, como o surubim, e a navegação. A última empresa que realizava transporte de cargas deixou de operar em abril de 2014, devido à seca e ao assoreamento do rio. Hoje, até pequenas embarcações precisam fazer desvios para não encalhar. Esperada para começar em novembro, a temporada de chuvas no São Francisco deverá atrasar, segundo meteorologistas, devido ao fenômeno El Niño - o superaquecimento das águas do Pacífico que provoca redução das chuvas no Nordeste.
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