sábado, 4 de outubro de 2025

“524 anos de histórias e desafios: Rio São Francisco luta por revitalização e futuro”

 Mais que um aniversário: a batalha do Rio São Francisco contra a inadimplência e as mudanças climáticas


No dia em que o Rio São Francisco celebra 524 anos de sua descoberta, em 04 de outubro, a bacia que sustenta a vida de 21,5 milhões de brasileiros ainda enfrenta desafios ambientais e de gestão sem precedentes. Diante desse cenário, a Diretoria Executiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e os coordenadores das câmaras regionais refletem sobre o presente e delineiam caminhos para garantir um futuro mais justo e sustentável para o Velho Chico, em sintonia com as expectativas que se voltam para a COP 30.

Em meio às reflexões da data, o presidente do CBHSF, Cláudio Ademar, ressalta três prioridades estratégicas para a gestão: elevar o Comitê a um novo patamar político, avançar no reconhecimento do Rio São Francisco como sujeito de direito e fortalecer a política nacional de recursos hídricos.

Ademar defende a busca por financiamento internacional e o papel do Comitê como “ponte para buscar recursos”, além de reverter a alta taxa de inadimplência. Ele afirma que transformar o rio em “sujeito de direito”, uma iniciativa com precedente em outros países latino-americanos, seria um legado significativo.

A meta é que o Comitê recupere seu espaço no debate nacional para fortalecer a política de recursos hídricos no Brasil.

Nesse sentido, para Altino Rodrigues, vice-presidente do CBHSF, a solução para os problemas da bacia não está em ações isoladas, mas em um planejamento estratégico focado. Ele elenca desafios urgentes: revitalização, contingenciamento de recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, o crescimento da inadimplência e a necessidade de revisão do Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) para garantir maior integração.

Rodrigues expressa confiança na nova diretoria, afirmando que já existe uma grande sintonia entre os membros, que há muito tempo vivenciam as pautas do São Francisco. A meta é fortalecer a articulação e o diálogo com parceiros para alavancar ações que cumpram as metas do plano estratégico. “Muito embora as mudanças climáticas estejam sendo discutidas mais enfaticamente nos últimos anos, o CBHSF já vem atuando há anos com ações que visam melhorar a convivência em territórios que sempre estiveram à mercê de extremos”, afirma o vice-presidente. Ele também menciona estudos preocupantes que mostram a perda significativa do espelho d’água na bacia e o avanço da desertificação em algumas áreas do semiárido, somados à destruição de biomas como Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

Em relação à COP 30, que acontecerá no próximo mês em Belém, Pará, a expectativa é promover debates para evidenciar a importância dos comitês de bacia na gestão dos recursos hídricos, buscando parcerias para avançar na missão institucional. Para Rodrigues, a esperança é fruto do trabalho e da união de forças entre a sociedade civil, usuários, poder público e parceiros, para “resgatar a vitalidade do Velho Chico.”

Para a secretária-executiva do CBHSF, Rosa Cecília, os maiores desafios desta nova gestão são fortalecer a integração e ampliar a representatividade, com planejamentos que assegurem o sentimento de pertencimento de todos os envolvidos. “Nossa conexão com a agenda global de mudanças climáticas é fundamental. A COP 30, em Belém, será uma oportunidade para levarmos a discussão sobre o quantitativo e a qualidade da água dos nossos rios e mananciais. A variação das chuvas, seja pela falta ou pelo excesso, interfere diretamente na quantidade e na qualidade da água, e essa é uma discussão mundial. Precisamos refletir sobre a água que temos a oferecer a uma população que cresce a cada dia e demanda esse recurso para todos os usos, não apenas para beber”, afirmou, lembrando que “no dia do aniversário do Velho Chico, precisamos de uma grande reflexão. O rio merece o nosso respeito e cuidado. Nós, que temos a capacidade de raciocinar, devemos agir de forma diferenciada para preservar nosso rio. O melhor para o Velho Chico é o melhor para todos nós.”

Saneamento e esperança no Submédio

Elias Silva, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, aponta o saneamento global como o maior desafio. “Não é justo nem correto que o Rio São Francisco, que doa uma quantidade considerável de água de excelente qualidade, receba em troca um volume enorme de efluentes”, afirma.

Silva enfatiza que a maior contribuição para o rio seria sanear os municípios da bacia, o que contribuiria diretamente para a recarga do rio. Outra meta crucial, segundo ele, é a recomposição da mata ciliar, especialmente em áreas já classificadas como áridas. “Praticamente todos os municípios das bacias do Pajeú e do Moxotó, entre outras, contribuem de forma considerável com essa quantidade de efluentes em nosso trecho da CCR, então, uma das nossas metas é fazer com que as entidades, órgãos e recursos, como a compensação da Eletrobras, e os próprios recursos do Comitê, entendam que a maior contribuição para o rio seria sanear esses municípios”.

A mensagem de aniversário do Submédio São Francisco é de esperança: “Falar do Rio São Francisco para a região do Submédio é falar sobre a nossa sobrevivência.” Silva destaca que a região, principalmente o Pajeú, depende da água do rio para se manter viva. “Hoje, em Pernambuco, e principalmente na região que eu vivo, o Pajeú, a base principal da permanência e sobrevivência das pessoas é o rio, por meio da Adutora do Pajeú. As cidades do Pajeú se mantêm vivas porque, com a redução das chuvas, os municípios se tornam totalmente dependentes desses sistemas”, afirmou, lembrando que a expectativa é de que, com a injeção de recursos de compensação da Eletrobras, o rio ganhe o “grande presente de aniversário” de ter o saneamento completo na região.

Integração e trabalho conjunto no Alto São Francisco

Adson Ribeiro, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco, enumera desafios que vão desde a revitalização da bacia e seus afluentes até o saneamento rural, o contingenciamento de recursos e o enfrentamento das mudanças climáticas.

Para reverter esse quadro, Ribeiro defende o trabalho em sintonia entre a diretoria e as câmaras regionais, além da busca por descentralização para atender às particularidades de cada região. Ele destaca a necessidade de campanhas de conscientização para combater a inadimplência e a busca por parcerias com usuários, governos e a sociedade civil para projetos de recuperação ambiental. “Nosso trabalho será de descentralização dentro da Câmara Consultiva Regional, para que possamos ouvir e solucionar os problemas de cada localidade. Nossa CCR é muito extensa e heterogênea, com fatores diversos como clima, ocupação do solo e atividades econômicas. Precisamos trabalhar de forma institucional e política para reverter o contingenciamento de recursos e, ao mesmo tempo, conscientizar e cobrar quem está inadimplente. A chave é a busca por parcerias com usuários, governos, autarquias e a sociedade civil para que, juntos, possamos implementar projetos de recuperação hidroambiental e saneamento. É a única forma de suprir a escassez de recursos e, por fim, buscar uma maior integração com os comitês de bacias afluentes, trabalhando em conjunto para atualizar os planos de bacia e fortalecer o CBHSF.”

Fonte: https://cbhsaofrancisco.org.br/noticias/novidades/80806/



quarta-feira, 17 de julho de 2024

Coordenador da CCR Submédio participa de reunião ordinária do CBH Salitre e discute sobre a desertificação na bacia do São Francisco

Buscando a integração das pautas entre os comitês afluentes e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar esteve no último dia 11 no município de Morro do Chapéu (BA), onde participou da XLVI Reunião Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre.


Sendo uma das regiões fortemente impactadas com conflitos diversos ao longo do seu leito, durante a reunião foram abordadas ações desenvolvidas nas Unidades de Conservação de Morro do Chapéu e interligação com as Bacias Hidrográficas, além da apresentação de estudo sobre reuso de água e apresentação sobre o Fundo Eletrobrás para Projetos Ambientais.

O coordenador da CCR Submédio, Cláudio Ademar destacou as ações desenvolvidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco através da CCR Submédio no combate à desertificação. Em 2023, foi criado o Grupo de Trabalho com a participação do Governo Federal através dos seus ministérios, para discutir, propor e realizar ações de combate à desertificação na bacia do São Francisco. Este ano, a CCR Baixo São Francisco também se uniu à iniciativa.

“Essa aproximação do Comitê da Bacia do São Francisco com seus afluentes é essencial para uma boa prática de gestão da bacia como um todo. Não adianta a gente pensar na calha sem pensar nos seus afluentes, até porque os afluentes são os canais que trazem água para a calha do São Francisco, então precisamos ter um objetivo, metas de gestão de toda a bacia e aí aproximar o comitê dos afluentes é a estratégia correta para isso. Na reunião, falamos sobre a desertificação, assunto que interessa a todo mundo e onde nossa região é muito afetada, então foi bastante produtivo criar um canal de aproximação. Tenho buscado, como coordenador, fazer essas aproximações. Já estivemos com o CBH do Lago de Sobradinho e agora do Comitê do Salitre e vamos buscar sempre estar próximo porque, reforço, a visão tem que ser de bacia como um todo”, afirmou o coordenador da CCR, Cláudio Ademar.

A presidente do CBH Salitre, Suely Nelson Argôlo agradeceu a parceria com o CBHSF. “Agradecemos ao Comitê do São Francisco pelo compartilhamento de saberes que fortalecem o nosso Comitê de Bacias. Também contamos com a palestra sobre o estudo do reuso de água feita pela EMBASA /Salvador e a apresentação das Unidades de Conservação de Morro do Chapéu e interligação com as Bacias Hidrográficas. Ressalto que essas informações são de fundamental importância para podermos avançar na luta em sintonia com todos os atores e parceiros que possam nos fortalecer nessa caminhada voluntária que só abraça quem tem amor pela causa”, destacou a presidente do CBH Salitre.

Rio Salitre

A bacia do rio Salitre faz parte da bacia do rio São Francisco, localizada no norte do Estado da Bahia tendo os rios Vereda da Caatinga do Moura, Pacuí e Riacho Escurial como parte de sua fonte hídrica, abrangendo nove municípios e uma população de mais de 96 mil habitantes.

O rio Salitre nasce na localidade de Boca da Madeira, no município de Morro do Chapéu (BA), percorre cerca de 333 quilômetros até desaguar no Rio São Francisco em Juazeiro, onde se torna perene. Nesse trecho se encontram adutoras que auxiliam a subsistência de diversos produtores. Mas é nesse ponto em que também ocorrem conflitos pelo uso da água.

Na região de Juazeiro, o rio percorre o Projeto Salitre, que conta atualmente com 255 lotes agrícolas destinados a pequenos produtores rurais e 68 empresariais em uma área de 5.098 hectares onde 1,5 mil hectares correspondem à área irrigada cultivada.

Fonte: https://cbhsaofrancisco.org.br/noticias/novidades/coordenador-da-ccr-submedio-participa-de-reuniao-ordinaria-do-cbh-salitre-e-discute-sobre-a-desertificacao-na-bacia-do-sao-francisco/

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Conheça os impactos que a transposição do rio São Francisco pode provocar no clima

Sem revitalização das águas, transposição pode contribuir para problemas ambientais no futuro, aponta especialista.

Mais de 20 milhões de brasileiros vivem em toda a Bacia Hidrográfica do São Francisco, maior rio do país que atualmente vive o processo final de transposição das suas águas, nomeado Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). O projeto consiste em uma obra de R$ 14 bilhões do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) que tem como objetivo levar água para regiões secas e semiáridas do Nordeste.

A longo prazo, no entanto, a tentativa de ajuda pode se converter em problema. É o que alerta o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) Marcus Vinícius Polignano. “A transposição é um esforço de um rio que já está precisando ser revitalizado. Isso implica em mais perda de vitalidade e, quando há descuido do meio ambiente, consequentemente há o acúmulo de energias que podem gerar os efeitos cataclísmicos”, pontua.

Outro possível problema que pode ocorrer através da transposição é o uso da água transposta para a irrigação e não apenas para o consumo, o que possivelmente demandaria o desmatamento de áreas cobertas por vegetação e uso excessivo de água. Ambas as situações são capazes de gerar aumento da temperatura – contribuindo para o aquecimento global – e desabastecimento na região de funcionamento do sistema de irrigação.

O Rio São Francisco é responsável por 70% da água consumida no Nordeste. De acordo com o IBGE, a bacia São Franciscana percorre 609 municípios em diversos estados. O dado, contudo, difere do dado informado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que aponta que o rio percorre 505 municípios em seis estados (Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), além do Distrito Federal, de modo que sua bacia corresponde a 8% do território nacional e abriga três biomas: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

Diante da sua amplitude, os municípios cortados pelo Velho Chico são divididos em quatro regiões fisiográficas: Alto São Francisco, Médio São Francisco, Submédio São Francisco e Baixo São Francisco. Com a transposição, há a formação de dois eixos: o Eixo Norte, que leva água para cidades em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte; e o Eixo Leste, que abastece as cidades de Pernambuco e Paraíba através de canais e sistemas de bombeamento.

Fonte: https://www.correio24horas.com.br/minha-bahia/conheca-os-impactos-que-a-transposicao-do-rio-sao-francisco-pode-provocar-no-clima-0524